9.1.06

O mistério da casa de Garrett (*)

QUANDO comecei a ler as histórias de Sherlock Holmes, interroguei-me acerca da existência, ou não, da tal Baker Street, a rua onde o herói residia.
Quando vim a saber que sim, a minha curiosidade passou a ser mais detalhada: então e o nº 221-B? Como seria?

Mas afinal não havia qualquer mistério, pois no tempo de Conan Doyle a rua acabava muito antes e o problema não se punha. Só que, com o decorrer dos anos, não só passou a existir esse Nº 221, como muitos outros prédios se lhe seguiram.


Foi, pois, com um misto de curiosidade e emoção que, da última vez que fui a Londres, me dirigi a essa zona. E qual não foi a minha surpresa quando vi que tudo em volta estava feito para tirar partido do mito – nomeadamente o comércio de recordações, como é típico dos ingleses, que sabem dar valor ao que têm.
Mas a surpresa maior ainda estava para vir:

Pouco adiante do verdadeiro 221, tinha sido “feita” a casa de Sherlock Holmes! Exactamente! Uma verdadeira casa vitoriana fora convertida em casa-museu, com tudo (mas absolutamente tudo) o que se possa imaginar, desde uma senhora vestida de Sra. Hudson (a governanta do detective, que me recebeu!) até aos inúmeros objectos referidos na obra – incluindo o inevitável violino!

Na altura, ainda em Portugal não estávamos a viver a incrível rábula da Casa de Garrett, «100% simétrica» desta; de contrário, o fenómeno seria um bom mistério para colocar ao famoso detective.
Mas também convém ter algum realismo: movendo-se Sherlock Holmes sempre no mundo da lógica, será que algum dia conseguiria resolver esse estapafúrdio problema tão português?
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(*) Publicado hoje no jornal «metro», com os cortes indicados a azul.