4.1.06

Visto do sofá (*)

Futebol sem ética

O NOVO ano futebolístico começou ao empurrão e à estalada, lá para as bandas do Aeroporto de Guarulhos (São Paulo) e do Aeroporto da Portela (Lisboa).

Protagonistas das cenas eventualmente chocantes foram o que se supõe ser um "coronel" de telenovela brasileira e meia dúzia de "forcados" de telenovela portuguesa que fizeram uma "espera" ao misterioso "coronel".

No fundo, este lamentável episódio, pormenorizadamente descrito pelos jornais e filmado pelas televisões, só serviu para confirmar que o futebol também se joga, cada vez mais, fora das quatro linhas de um relvado.


Sem árbitro que imponha as regras e, ao que se sabe, com a polícia a intervir tardiamente para proteger o tal "coronel" recebido à chapada. (...) Texto integral em «Comentário-1»

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(*) Crónica de Alfredo Barroso, publicada no «DN» e aqui transcrita com sua autorização

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4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Visto do Sofá

Futebol sem ética


O novo ano futebolístico começou ao empurrão e à estalada, lá para as bandas do Aeroporto de Guarulhos (São Paulo) e do Aeroporto da Portela (Lisboa). Protagonistas das cenas eventualmente chocantes foram o que se supõe ser um "coronel" de telenovela brasileira e meia dúzia de "forcados" de telenovela portuguesa que fizeram uma "espera" ao misterioso "coronel". Um espectáculo pouco edificante, em lugares impróprios para o pontapé na bola. Prevaleceram os encontrões e, sobretudo, as mãos e os punhos - o que até se compreende, dado que estava em causa a contratação de um guarda-redes.

No fundo, este lamentável episódio, pormenorizadamente descrito pelos jornais e filmado pelas televisões, só serviu para confirmar que o futebol também se joga, cada vez mais, fora das quatro linhas de um relvado. Sem árbitro que imponha as regras e, ao que se sabe, com a polícia a intervir tardiamente para proteger o tal "coronel" recebido à chapada. Coisas de um "mercado da bola" ciclicamente reaberto, que vão pondo a nu os "golpes baixos" de uma competição em que vale quase tudo, mesmo "tirar olhos".

Dizia Jorge Valdano que, se quisermos que o futebol tenha futuro, é preciso pô-lo sob vigilância, não só dentro do campo mas também fora dele, para não permitir que a paixão, excessiva por definição, se transforme em violência. Como ganhar já não é só um desejo mas sim uma necessidade, há cada vez mais protagonistas, sobretudo fora das quatro linhas, prontos a infringir as regras e a ignorar os limites, a começar pelos éticos. Quando o negócio e os seus meandros prevalecem sobre a qualidade do pontapé na bola nos relvados, a ganância dos agentes e a demagogia dos dirigentes acabam por vir ao de cima, com muitas, piedosas e lamentáveis mentiras de primeira página à mistura.

Longe vai o tempo em que os adeptos do pontapé na bola, até os mais fanáticos, diziam que o melhor do futebol são os jogadores. Hoje, também eles são envolvidos ou deixam-se envolver em negociatas espúrias, cedendo a pressões que os levam a assumir e, até, a assinar compromissos com mais do que um clube, transformando-se, assim, não propriamente em bolas de futebol, mas em bolas de pingue-pongue entre agentes e dirigentes cujos escrúpulos deixam muito a desejar. O "amor à ca-misola" foi chão que deu uvas, no futebol completamente comercializado dos tempos que correm. E há mesmo quem diga, com ironia, que "suar as camisolas" é, hoje, vendê-las por bom preço, em operações de marketing e merchandising, que visam alimentar os cofres dos clubes de futebol.

Não resisto à tentação de evocar uma pequena história que Jorge Val-dano contou como exemplo, há já um bom par de anos. Juan Corbalán, o grande jogador e capitão da equipa de basquetebol do Real Madrid, costumava dirigir uma pergunta muito perspicaz aos jovens jogadores que che- gavam "Quem é mais importante neste clube, o presidente ou tu?" Todos lhe respondiam que era o presidente. Corbalán indignava-se e procurava incutir-lhes o sentido das responsabilidades: "Olha, miúdo, quando a bola está nas tuas mãos, o presidente não existe. Nesse momento, o Real Madrid és tu." Troque-se as mãos pelos pés e esta é uma história que também serve para qualquer equipa de futebol.

Sabemos que a grande maioria dos futebolistas tem origem humilde. São poucos os que ascendem ao estatuto de "estrelas" e muitos os que vão parar ao desemprego e se arrastam numa apagada e vil tristeza depois de arrumarem as botas. Compreende-se que se batam pela sobrevivência e deixem submeter-se a todo o tipo de pressões e ameaças. Deve ser aí que perdem o prazer de jogar o jogo pelo jogo. Mas também é verdade que um génio como Garrincha, que jogava por puro prazer e quase sempre ganhava, acabou a sua vida pobre, desamparado e consumido pela bebida. Os futebolistas merecem mais protecção e respeito. Porque o futebol sem ética é como a globalização sem regras.

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Crónica de Alfredo Barroso no «DN», aqui transcrita com sua autorização

4 de janeiro de 2006 às 11:20  
Anonymous Anónimo said...

Os idiotas do futebol português ao seu melhor estilo... não se esqueçam tambem dos programas da especialidade que passam na televisão....

4 de janeiro de 2006 às 13:46  
Blogger Nuno Nasoni said...

Grave é que o episódio não foi "pormenorizadamente" descrito pela televisão. Foi notório o esforço da SIC em esconder o rosto do agressor - o que diz muito sobre as cumplicidades existentes com o clube de futebol envolvido neste triste acontecimento.

Há uns pândegos que acham que basta construir um aeroporto novo para competir com o aeroporto de Madrid. Este episódio é apenas mais um a lembrar que é preciso mais, muito mais do que isso. Não é admissível um episódio destes num aeroporto internacional, supostamente uma área fortemente policiada.

4 de janeiro de 2006 às 15:03  
Blogger Nuno Nasoni said...

Grave é que o episódio não foi "pormenorizadamente" descrito pela televisão. Foi notório o esforço da SIC em esconder o rosto do agressor - o que diz muito sobre as cumplicidades existentes com o clube de futebol envolvido neste triste acontecimento.

Há uns pândegos que acham que basta construir um aeroporto novo para competir com o aeroporto de Madrid. Este episódio é apenas mais um a lembrar que é preciso mais, muito mais do que isso. Não é admissível um episódio destes num aeroporto internacional, supostamente uma área fortemente policiada.

4 de janeiro de 2006 às 15:04  

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