BALANÇO - O ano do décimo planeta?
A missão «Deep Impact» - que fez colidir um projéctil no cometa Tempel 1 - e o centenário da publicação das descobertas de Einstein marcaram o ano de 2005
Um evento astronómico que ombreia em importância com a descoberta de Xena foi o soco violento que a nave «Deep Impact» deu no cometa Tempel 1, criando nele uma cratera do tamanho de uma casa e espalhando jactos de detritos visíveis em telescópios terrestres. O extraordinário sucesso da missão foi um prodígio da técnica aeroespacial e anuncia uma nova fase na exploração interplanetária.
O IMPACTO revelou que o cometa tem uma estrutura fraca, sendo mais comparável a uma neve fofa e suja do que a uma bola de gelo congelada, como se poderia pensar. As imagens obtidas na proximidade do astro mostram uma superfície com áreas inexplicavelmente planas e lisas. Mostram também que pequenas erupções de gás e poeira são muito frequentes no cometa. A análise espectral revelou ainda mais compostos orgânicos do que o esperado.
Em matemática, um dos mais importantes avanços do ano foi obtido por Daniel Goldston, Cem Yildirim e János Pintz. Trabalhando na Califórnia, Istambul e Budapeste, respectivamente, estes matemáticos encontraram uma caracterização da maneira como os números primos estão distribuídos entre os inteiros, resolvendo um enigma que há muito atormentava os melhores estudiosos da matéria. Este resultado é ainda muito técnico, mas terá repercussões bastante importantes no estudo dos números primos, que são os blocos elementares em que se baseia a criptografia moderna.
Em física, um dos sucessos mais importantes terá sido a recriação no Laboratório Brookhaven de condições semelhantes às que existiam logo a seguir ao Big Bang, o que veio a mostrar que a sopa primitiva de quarks e gluões se comporta de maneira semelhante à de um fluido perfeito e não da forma caótica que até aqui se imaginava.
Em arqueologia, novos estudos revelaram que o hominídeo das Flores, descoberto em 2003 na Indonésia e que se pensava ser um elemento de uma nova espécie, era apenas um pigmeu afectado de microcefalia, uma condição que provoca uma deformação do crânio.
A história da ciência também avançou, com a descoberta de um novo manuscrito de Albert Einstein em Leiden e com a revelação de um mapa do céu feito no tempo de Hiparco.
Em todas as áreas científicas, 2005 ficou marcado como um ano de grandes avanços. Mas talvez as gerações futuras venham a assinalá-lo como o ano em que o sistema solar revelou mais um planeta.
ALÉM de comemorar 1905, este ano trouxe alguns progressos importantes para a ciência. É difícil avaliá-los a esta curta distância, mas, em astronomia, uma das descobertas mais importantes terá sido a de mais um astro no sistema solar, um corpo que orbita o Sol a uma distância três vezes superior à de Plutão e que recebeu a designação científica de UB313. Enquanto se espera que a União Astronómica Internacional escolha um nome mais familiar, o seu descobridor, o astrónomo Mike Brown, de Caltech, deu-lhe o nome de Xena, inspirando-se na famosa princesa guerreira da série televisiva do mesmo nome. A descoberta passaria despercebida e UB313 seria visto como mais um dos corpos longínquos que orbitam o Sol para lá de Neptuno, na chamada cintura de Kuiper, não fora o seu tamanho ser superior ao de Plutão. Tem pois direito a reclamar o título de planeta. Pode assim acontecer que 2005 seja o ano em que se vê o sistema solar aumentado de um planeta, o que não acontecia desde a descoberta de Plutão em 1930. Mas também pode acontecer que os astrónomos, percebendo que esta descoberta é o prenúncio de outras semelhantes, decidam chamar planetas aos astros até Neptuno e dar o nome de planetóides ou planetas menores a Plutão, a Xena e a outros corpos de dimensão semelhante que certamente existem para lá de Neptuno. Se assim acontecer, 2005 será o ano em que o sistema solar ficou reduzido para oito planetas, o que não deixará também de fazer história.
(Adapt. do «Expresso»)
A ASTRONOMIA foi a área em que se registaram os avanços mais espectaculares, mas o progresso atingiu todas as ciências.
Há cem anos, quando Einstein publicou os seus quatro trabalhos revolucionários, ninguém sonhava que a física moderna estava a nascer e que a mecânica quântica e a relatividade iam mudar o nosso universo. O ano 2005 comemorou essa data com actividades várias em todo o mundo. Em Portugal, foram feitas inúmeras palestras, organizadas várias exposições e editados livros de física a um ritmo nunca visto entre nós. Todas estas actividades vão deixar marcas. Mas talvez essas marcas só sejam visíveis dentro de uma geração. Ficam para já muitos livros de divulgação de grande qualidade, muitas ideias e recordações. E ainda uma magnífica exposição que está nos seus últimos dias: «À Luz de Einstein», na Fundação Gulbenkian.Um evento astronómico que ombreia em importância com a descoberta de Xena foi o soco violento que a nave «Deep Impact» deu no cometa Tempel 1, criando nele uma cratera do tamanho de uma casa e espalhando jactos de detritos visíveis em telescópios terrestres. O extraordinário sucesso da missão foi um prodígio da técnica aeroespacial e anuncia uma nova fase na exploração interplanetária.
NASA / JPL-CALTECH / UMD
O IMPACTO revelou que o cometa tem uma estrutura fraca, sendo mais comparável a uma neve fofa e suja do que a uma bola de gelo congelada, como se poderia pensar. As imagens obtidas na proximidade do astro mostram uma superfície com áreas inexplicavelmente planas e lisas. Mostram também que pequenas erupções de gás e poeira são muito frequentes no cometa. A análise espectral revelou ainda mais compostos orgânicos do que o esperado.
Em matemática, um dos mais importantes avanços do ano foi obtido por Daniel Goldston, Cem Yildirim e János Pintz. Trabalhando na Califórnia, Istambul e Budapeste, respectivamente, estes matemáticos encontraram uma caracterização da maneira como os números primos estão distribuídos entre os inteiros, resolvendo um enigma que há muito atormentava os melhores estudiosos da matéria. Este resultado é ainda muito técnico, mas terá repercussões bastante importantes no estudo dos números primos, que são os blocos elementares em que se baseia a criptografia moderna.
Em física, um dos sucessos mais importantes terá sido a recriação no Laboratório Brookhaven de condições semelhantes às que existiam logo a seguir ao Big Bang, o que veio a mostrar que a sopa primitiva de quarks e gluões se comporta de maneira semelhante à de um fluido perfeito e não da forma caótica que até aqui se imaginava.
Em arqueologia, novos estudos revelaram que o hominídeo das Flores, descoberto em 2003 na Indonésia e que se pensava ser um elemento de uma nova espécie, era apenas um pigmeu afectado de microcefalia, uma condição que provoca uma deformação do crânio.
A história da ciência também avançou, com a descoberta de um novo manuscrito de Albert Einstein em Leiden e com a revelação de um mapa do céu feito no tempo de Hiparco.
Em todas as áreas científicas, 2005 ficou marcado como um ano de grandes avanços. Mas talvez as gerações futuras venham a assinalá-lo como o ano em que o sistema solar revelou mais um planeta.
ALÉM de comemorar 1905, este ano trouxe alguns progressos importantes para a ciência. É difícil avaliá-los a esta curta distância, mas, em astronomia, uma das descobertas mais importantes terá sido a de mais um astro no sistema solar, um corpo que orbita o Sol a uma distância três vezes superior à de Plutão e que recebeu a designação científica de UB313. Enquanto se espera que a União Astronómica Internacional escolha um nome mais familiar, o seu descobridor, o astrónomo Mike Brown, de Caltech, deu-lhe o nome de Xena, inspirando-se na famosa princesa guerreira da série televisiva do mesmo nome. A descoberta passaria despercebida e UB313 seria visto como mais um dos corpos longínquos que orbitam o Sol para lá de Neptuno, na chamada cintura de Kuiper, não fora o seu tamanho ser superior ao de Plutão. Tem pois direito a reclamar o título de planeta. Pode assim acontecer que 2005 seja o ano em que se vê o sistema solar aumentado de um planeta, o que não acontecia desde a descoberta de Plutão em 1930. Mas também pode acontecer que os astrónomos, percebendo que esta descoberta é o prenúncio de outras semelhantes, decidam chamar planetas aos astros até Neptuno e dar o nome de planetóides ou planetas menores a Plutão, a Xena e a outros corpos de dimensão semelhante que certamente existem para lá de Neptuno. Se assim acontecer, 2005 será o ano em que o sistema solar ficou reduzido para oito planetas, o que não deixará também de fazer história.
(Adapt. do «Expresso»)
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home