2.2.06

Fiteiros e grafiteiros

ESTOU em Lagos, cidade onde, na semana passada, a PSP deteve uns adolescentes que andavam a fazer grafitis um pouco por todo o lado, incluindo em monumentos, casas e lojas.

Agora, estou com muita curiosidade de saber o que lhes vai suceder, nomeadamente se vão ser postos a limpar o que fizeram (não seria caso único), se vão pagar a limpeza (seria o mínimo) ou se vão ser mandados em paz (o que será o mais provável) - com a justificação de que "são menores", sem que os pais sejam responsabilizados pelos actos dos seus "educandos".

O certo é que se trata do tipo de coisas que, se não for reprimido logo de início nunca mais se controla...

A propósito dessa rapaziada, aqui fica uma história publicada em tempos na revista«VALOR»


O MARCOLINO

CONTINUANDO a abordar temas da actualidade nacional, dificilmente se poderá fugir ao tema da moderna insegurança urbana.
E, de facto, neste espaço tem-se falado de criminosos comuns, de condutores que se comportam como assassinos, da forma como a Justiça lida com o problema, etc. etc.
E, evidentemente, tem-se procurado dar destaque aos esforços que o Salvador faz para pôr ao serviço da Lei e da Ordem os seus conhecimentos tecnológicos.
Há dias, fui dar com ele, sentado na leitaria da D. Deolinda, nervoso, a fazer estranhas pesquisas na Internet. Vi, de longe, que o monitor apresentava gatafunhos e mais gatafunhos, uns mais feios do que outros, e não resisti a perguntar à dona da loja (para não interromper o Grande Consultor) se sabia o que é que se passava.
- Não o incomode agora! Sabe? É que o afilhado parece que anda com problemas com a Justiça e ele está a informar-se sobre crimes.
Fiquei gelado! Apesar de não conhecer o rapaz, a situação não era nada agradável.
Resolvi, então, ficar por ali perto, folheando umas revistas, até se proporcionar o momento certo para me intrometer no assunto.
Finalmente, o Salvador lá reparou em mim, e chamou-me para ao pé de si, não alterando - nem sequer procurando disfarçar - o seu ar preocupado.
E passou a explicar:
- Trata-se do Marcolino, o meu jovem afilhado que tem a mania que é artista... Mas até agora só deu em pintor de paredes! Anda a encher a cidade com a sua bonecada, e nem o facto de ter várias páginas na Web o salva de ir parar à prisão. Não leste a entrevista do homem que foi Mayor de Nova Iorque e que sugere que se prendam os artistas como o Marcolino?
De facto lera, e a coisa podia ficar feia para o rapaz.
O Salvador, suspirando, desligou o computador e saímos.
Mas o certo é que há coincidências engraçadas, e logo fomos encontrar o Marcolino, encostado a uma parede, pensativo.
Estava em frente à Fundação Gulbenkian e uma lata de spray espreitava do bolso direito das calças.
O Salvador apresentou-nos, conversámos um pouco, e eu tive uma ideia fabulosa: levei a conversa para a arte, e, como quem não quer a coisa, convenci-os a irem comigo a ver «a verdadeira arte», na exposição permanente da Fundação.
Mas, face ao desinteresse do Marcolino, a breve trecho estávamos cá fora...
Porém, não desistindo, arranjei forma de nos encaminharmos de seguida para o edifício anexo, o Centro de Arte Moderna.
E, desta vez, sim! O nosso jovem saiu de lá com um sorriso nos lábios!
Alguma coisa lhe dizia que, ali por aqueles lados, a sua arte seria compreendida!
Mas confesso que fiquei preocupado quando, já na rua, o Marcolino quis voltar atrás, fascinado com a brancura de alguns pilares e paredes do Museu...