11.3.06

Um filme delicioso

A HISTÓRIA deste filme é a de uma família da RDA que é confrontada com a reunificação.

Os mais novos aceitam o facto com entusiasmo, mas os mais velhos nem por isso...
Ora sucede que, nesta família, a "mãe" (uma entusiasta militante comunista) entra em coma poucos dias antes da Queda-do-Muro e só acorda oito meses depois.
Como, durante a convalescença que se segue, não pode sofrer emoções fortes, o filho (com a cumplicidade da família, dos amigos e dos vizinhos) passa o tempo todo a reconstituir a realidade anterior (nomeadamente fabricando ou manipulando reportagens de televisão).
E tão bem o faz que a boa senhora acaba por morrer convencida de que até O Muro caiu porque os alemães ocidentais se revoltaram e quiseram ir viver para o Leste...
Dado que o essencial da mentira só funciona bem enquanto a senhora está fechada no quarto e isolada do mundo (do qual apenas sabe o que vê na TV), o filme é, também, uma vigorosa alegoria.
NOTA: Vivi muito tempo na Alemanha (entre 1989 e 1991) e estive em Berlim (Leste e Oeste) exactamente nos locais e na época que este filme refere. Tanto quanto sei, ele é perfeitamente rigoroso - desde os mais pequenos pormenores até à maneira de pensar daquelas pessoas.

3 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Na realidade, a senhora acaba por sair do quarto - uma vez porque foge, e outra porque, já estando melhor, a levam a passear.

Desta segunda vez, o filho até consegue arranjar um Trabant azul-claro. Ao cruzarem-se pelos BMW que entretanto apareciam, convence a mãe de que se trata de alemães-ocidentais que haviam pedido asilo aos orientais.

12 de março de 2006 às 10:51  
Blogger cãorafeiro said...

é muito bom, de facto, e revela um fenómeno, a ostnostalgia. existe um fenómeno similar na ex-jugoslávia, a que chamamos jugonostalgia: saudades do tempo em que tito vivia, o país tinha prosperidade e prestígio internacional.

quanto à mãe do rapaz, penso que ela nunca foi comunista, foi a maneira que teve de se defender depois de o marido ter passado para o ocidente e de ela ter sido presa e sujeita a uma lavagem cerebral. essa é a ironia do filme, na minha interpretação.
pergunta: o filme está em cartaz?

12 de março de 2006 às 16:04  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Cão Rafeiro,

Que eu saiba, o filme não está em cartaz. Vi-o ontem, em DVD.

Na versão que vi, não me apercebi que ela tenha sido presa.
No entanto, no fim, ela confessa aos filhos que esteve para acompanhar o marido na fuga para o Ocidente.
É quando aparecem as cartas que ela recebia e escondia no armário da cozinha.

12 de março de 2006 às 16:09  

Enviar um comentário

<< Home