4.5.06

Fantasias freudianas na educação

ENTRE as ideias de Freud que tiveram ramificações em pedagogia conta-se a sua teoria da recapitulação. Segundo esta, o nosso desenvolvimento psicológico passaria por uma série de etapas que seguiriam, por ordem cronológica, o nosso próprio desenvolvimento ancestral. Coisa semelhante deveria acontecer com a aprendizagem.
A ideia da recapitulação aparece cedo nos escritos de Freud e seria desenvolvida repetidamente ao longo da sua vida. Já em 1897, numa carta ao seu colaborador Wilhelm Fliess (1858–1928), Freud tinha dito que a repressão sexual do estímulo olfactivo correspondia à passagem dos hominídeos para a postura erecta: «o nariz levanta-se do solo e, ao mesmo tempo, anteriores sensações interessantes ligadas à terra tornam-se repelentes.» Mais tarde, tendo desenvolvido a sua teoria dos estádios psico-sexuais, Freud diria que os estágios anal e oral das crianças representam o nosso passado a quatro patas, e que o estádio genital adulto representa a nossa estrutura erecta. Nas suas conhecidas «Lições Introdutórias de Psicanálise», de 1916, seria perfeitamente explícito: «Cada indivíduo por algum processo recapitula de forma abreviada todo o desenvolvimento da raça humana.»

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Conforme veio a ser descoberto já depois da morte de Freud, o tema teve no pensamento deste autor uma importância ainda maior do que lhe tinha sido dada. Um escrito de 1915 que tinha estado perdido durante décadas foi finalmente encontrado num baú que tinha pertencido à sua filha Anna, falecida em 1983. Foi editado e publicado em 1987 pela Harvard University Press com o título «A Phylogenetic Fantasy».

Freud desenvolve aí a sua classificação das neuroses conforme a fase de desenvolvimento pessoal em que elas aparecem. Afirma aí que elas «devem também ser testemunho da história do desenvolvimento mental da humanidade». A teoria da recapitulação freudiana aparece pois como um dos fundamentos da psicanálise.

(Texto integral em «Comentário-1»)