Os corpos flutuantes (*)
Um dos episódios menos conhecidos, mas nem por isso menos importante, foi um debate a propósito dos corpos flutuantes. Na altura já se conhecia o essencial, explicado há muito por Arquimedes (287–212 a.C.) e expresso no princípio que se aprende ainda hoje na escola: qualquer corpo mergulhado num líquido recebe da parte deste um impulso de baixo para cima igual ao peso do volume de líquido deslocado. A flutuação é pois decidida pelo equilíbrio entre o peso do líquido deslocado e o peso do objecto. Posteriormente, este princípio foi estendido a qualquer fluido. É ele que explica, por exemplo, o levantamento de um balão.
Para reforçar que não é a forma dos objectos que causa o seu afundamento, coloca depois uma agulha metálica a flutuar, o que se consegue fazer desde que ela esteja seca e seja colocada cuidadosamente sobre a água. Mostra essa experiência que objectos pontiagudos, portanto propensos a «cindir a água» podem flutuar.
O dramaturgo força aqui um pouco a verdade histórica, pois esse argumento pretendia pôr em causa Arquimedes e foi arremessado por um adversário de Galileu, o académico florentino Ludovico delle Colombe. O enigma apenas pode ser resolvido conhecendo uma propriedade dos líquidos chamada «tensão superficial» e que consiste na sua tendência a encontrar uma superfície mínima, esticando-a como se esta fosse uma membrana elástica. A resposta de Galileu, que não conhecia esta propriedade, foi magistral: relembrou que a agulha deformava a superfície e deslocava pois um volume de líquido superior ao dela própria. Como resultado, o princípio de Arquimedes continuava em acção: o maior volume deslocado era suficiente para fazer flutuar esse corpo metálico. Tratava-se de uma especulação que viria a ser ultrapassada, mas que tinha mais fundamento do que os argumentos dos seus opositores. É bom ver Galileu a pensar.
(*) Crónica adaptada do «EXPRESSO»
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