Petição - Porque não assino
A CERTA altura, diz-se, no texto da Petição: «Ignorando que “a matemática e as ciências não formam cidadãos”».
Não será mais correcto (e bastante menos pedante...) dizer-se que «a Matemática e as Ciências NÃO SÃO SUFICIENTES para formar cidadãos»?
Se, como parece, é esse o espírito que está por detrás desta petição... então passem muito bem!
Afixado por: Carlos Medina Ribeiro às 09:54
11 Comments:
Além da pedantice não se percebe a razão de serem utilizadas as línguas francesa e inglesa na petição. Se a mesma diz respeito às línguas clássicas, deveriam ter utilizado o grego e o latim. Ou será que os signatários não saberiam redigir a petição nestas línguas?
E o que é que é sugerido na petição que seja retirado dos currículos para serem inseridas disciplinas de latim e /ou grego? Disciplinas Científicas? Não me parece muito sensato... Ou disciplinas como a história, a filosofia ou o francês ou o alemão? Parece-me mal pensado...
Letras - Ciências
(...) Como de costume, havia uma pequena festa, mas só com as pessoas mais chegadas.
É importante dizer-se também que - tirando eu, o Xiquinho e o avô Hermenegildo que fôra capitão - todas as pessoas presentes tinham uma formação de Letras.
Mas no mês anterior eu tinha-me ligado à Internet, e andava por tal forma entusiasmado com o que ia descobrindo na Web que resolvi enfrentar - mas armado! - o grupo infor-fóbico que todos os anos se reunia naquela casa.
Sim, porque - como já deu para perceber - eu era o bombo da festa daquelas senhoras todas, extremamente versadas em Humanísticas e desprezando a mínima coisa que pudesse cheirar a tecnologia.
Nesse dia, como eu ia dizendo, dei por mim envolvido numa discussão bizantina:
Tratava-se de decidir o que era pior:
Desconhecer «Os Lusíadas» ou não saber mudar uma lâmpada.
A discussão era profundamente caricata, e eu defendia que as duas coisas eram precisas, e uma ou outra fazem mais ou menos falta conforme as circunstâncias…
Cavaco Silva, em tempos, não teria dado tudo para ocultar a sua ignorância quanto ao número de cantos d’ «Os Lusíadas»?
O que diria Leonardo Da Vinci, (inventor, engenheiro, pintor…) se um dia lhe perguntassem se “era de Letras ou de Ciências”?
Como reagiria ele se lhe dissessem que uma parte do seu saber era irrelevante, e que só a outra parte era digna de consideração?
As minhas amigas decerto lhe teriam dito:
— O Leo, deita p’ro lixo o helicóptero, o para-quedas e a máquina de voar! Guarda só a Mona Lisa!
Foi nessa altura que eu abri o saco que levava e saquei para fora um portátil com modem.
Parecia que tinha tirado uma cascavel de lá de dentro!
— Ai, querido! Tecnologias, aqui, não! Muito menos hoje, que é dia de festa!
Mas não liguei ao que a Rita dizia:
Previamente já eu localizara uma tomada de telefone, e em menos de nada estava ligado à Internet, acedendo a sites que a seu tempo já tinha registado nos “Favoritos”.
Mas o alheamento era a arma daquelas senhoras. E só o avô Hermenegildo parecia interessar-se:
— Meta aí o programa da TV2… Deve estar quase a começar… É sobre a Primeira Guerra Mundial… Você não costuma ver?
E eu, feito tolo:
— Venham ver o Louvre, meninas!
Nada.
— Olhem a bibliografia do Eça!
Silêncio.
— Está aqui o site com os quadros do Matisse!
Desprezo total.
A Julinha, elevendo a voz, comentava:
— Eu nem sei mudar um pneu…
— Eu também não - diziam todas em coro.
— Eu nem sei usar o Multibanco!
— Eu também não - diziam todas em coro.
— ooOoo —
Mas Deus é grande!
Foi nessa altura que o Xiquinho apareceu na sala, com o bacio na mão:
— Fiz xi-xi! Fiz xi-xi!
E a Rita emocionada:
— Fez no penico! Pela primeira vez fez no penico!
… abraçou o rebento, bruscamente…
… e deu-se a desgraça!
Escorrendo para cima da ficha onde o portátil estava ligado o xi-xi do Xiquinho provocou um curto-circuito inolvidável que fez fundir os fusíveis da casa e nos mergulhou a todos numa escuridão abissal!
No meio da confusão que se estabeleceu arrumei as tralhas às apalpadelas e saí porta fora jurando nunca mais voltar.
Só me lembro de ouvir a voz da Rita:
— Eu nem sei compôr um fusível!
— Eu também não - choravam todas em coro…
.............
(Do Cap. XXVII do livro «Crónicas da InforFobia», Ed. CATI, disponível gratuitamente, em e-book/PDF, em www.jeremias.com.pt):
Na Internet há a ideia generalizada de que as petições são sempre por uma boa causa, e a maior parte das pessoas assina-as sem as ler - fazem muito mal.
Veja-se o que se passou, neste mesmo blogue, aquando da extinção do Ballet Gulbenkian:
Se o texto da petição tivesse sido (só) qualquer coisa como «Não acabem com ele!», a malta tinha assinado sem problemas.
Mas os autores desataram a dar largas à bilis e, com isso, acabaram por afastar muita gente.
Mas não há mal nenhum nisso; antes pelo contrário pois, além de estarem no seu pleníssimo direito, é bom que o façam para se saber ao certo o que lhes vai na cabeça e com quem nos solidarizamos quando subscrevemos as suas petições.
D.R.
Os ignorantes carregados de livros, parecem doutores, ainda para mais se forem livros em latim.
Na sua ignorância, nem sequer sabem que, se não fosse a ciência que libertou 90% da população dos países desenvolvidos, da escravidão que era produzir alimentos, estariam, como os seus antepassados, agarrados a um arado, atrás de uma junta de bois.
Pelo que escrevi acima, os ignorantes carregados de livros e que parecem doutores, da próxima vez que falarem em ciência, não se esqueçam de ajoelhar e rezar agradecendo á Santa Ciência e á Deusa Matemática, os benefícíos da vida que estas lhes proporcionaram.
Estes intelectuais de pacotilha estão muito enganados. Toda gente devia de ter um mínimo de conhecimentos científicos, já que são estes que explicam o mundo que nós rodeiam. Eu já tenho ouvido cada bacorada de fazer bradar os céus. O sr.Cidadão Mal-Formado tem toda a razão, se não fosse a ciência ainda estavamos na idade da pedra a adorar objectos inanimados. Foi a ciência que nos livrou da ignorância, das cruzadas, da inquisição, dos sistemas políticos despóticos. Se não fosse a ciência não estavam a fazer essa petição on-line. Uma sugestão para esses senhores: Já que consideram "essencial" que todas as pessoas tenham conhecimento de latima e grego clássico, que são linguas mortas, eu sugiro que se considere essencial o ensino de copta, já que o Egipto já foi uma grande civilização, com grandes pensadores e possuiu a maior biblioteca da altura, a biblioteca da Alexandria. Eu poderia sugerir outras línguas como o aramaico, mas isso já era estar a divagar..
Não tem mal nenhum que se aprenda "isto" e/ou "aquilo", pois todos os saberes do mundo (presentes ou passados) são importantes.
Simplesmente, têm de ser analisadas com cuidado as exigências do tipo «aprenda-se isto em vez daquilo».
No 3º, 4º e 5º anos do liceu, tive 13 disciplinas (9 com exame e 4 ou 5 sem exame).
Caríssimo CPC,
No meu Comentário intitulado «Letras-Ciências» e no que antecede o seu, "corrijo um pouco o tiro" do texto que meti no "post":
Não tem mal nenhum que se aprenda "isto" e/ou "aquilo", pois todos os saberes do mundo (presentes ou passados) são importantes
Diz-se atrás: «Brava e inútil discussão, esta».
Não me parece, nem mais brava nem mais inútil do que é habitual nos blogues.
Este, por sinal, é frequentado por gente contida e educada. E e o assunto em causa até é muito interessante.
Ed
É verdade, não é brava. Está a ser uma discussão educada e interessante. Mas nem o patrão do blogue ainda disse que afinal vai assinar a petição, nem o resto do povo veio em massa apoiar o Carlos Pinto Coelho. Portanto, sim senhor, perfeitamente inútil. Aliás, os blogues só servem para nos espantar as insónias.
Ó anónimo, toma um xanax ou muda para o Abrupto, que a tua insónia passa!
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