24.8.06

Não estou nada arrependido...

... de ter votado em branco nas últimas eleições autárquicas.
É que a apropriação abusiva que os partidos (todos eles!) fazem dos nossos votos (que, em eleições deste tipo, são extremamente pessoalizados) é demasiado irritante.
O Editorial do «DN» de hoje, da autoria de António José Teixeira (transcrito em «Comentário-1»), merece bem ser lido.
-oOo-
Até se compreendia que o PCP tirasse o tapete ao autarca no seguimento das supostas irregularidades detectadas com as 60 reformas compulsivas aparentemente combinadas entre a Câmara e os punidos.
Mas Jerónimo de Sousa vem agora dizer que não é nada disso. O que há é necessidade de «novas energias» (*).
Ao fim de, apenas, 10 meses de trabalho?
E é o Partido que, em telecomando, põe e dispõe num caso destes?!
E o homem faz-lhe a vontade?!
Fra(n)camente!

8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Golpe em Setúbal

[António José Teixeira]

O PCP demitiu ontem o presidente da Câmara de Setúbal. Meticulosamente, no último fim-de-semana, os comunistas fizeram constar que estavam a avaliar o mandato de Carlos de Sousa. O secretário-geral veio depois a público dizer que o autarca é um homem sério, mas que o partido estava a ponderar o trabalho realizado. Alguns dias passaram e o fim anunciado de Carlos de Sousa confirmou-se. E o PCP nem sequer deu oportunidade ao sentenciado de ser ele a anunciar o seu sacrifício em primeira mão. O edil tinha marcado uma conferência de imprensa, mas o seu partido antecipou-se. De madrugada, emitiu um comunicado para divulgar a saída do presidente e de um vereador. Obediente à disciplina partidária, Carlos de Sousa não disfarçou porém a surpresa. Foi demitido pelo partido em nome da necessidade de "renovação". O mesmo partido que apenas há 10 meses o apresentou ao eleitorado pela segunda vez...

Carlos de Sousa e o PCP sabem há muito que a Inspecção-Geral da Administração do Território (IGAT) detectou graves irregularidades na autarquia. O DN divulgou-as em 31 de Outubro do ano passado. De pouco vale agora procurarem conspirações atabalhoadas. Até porque se não foi por causa das consequências da auditoria da IGAT, que apontavam para a possibilidade de perda de mandato do presidente da Câmara de Setúbal e a dissolução do executivo camarário, que outra razão grave levou o PCP a afastar o autarca?

Nas ruas de Setúbal reinam a estupefacção e a ignorância. Sabe-se que a herança do socialista Mata Cáceres foi catastrófica. A situação financeira era muito difícil no primeiro mandato de Carlos de Sousa e assim continua no segundo. Sabe-se da importância estratégica de Setúbal para o PCP e de algum terreno eleitoral perdido na última eleição. Sabe-se que as alternativas devem ser preparadas com tempo. Mas que sabem os eleitores? Sabem que o PCP se considera o detentor dos mandatos populares, que demite os autarcas que deram a cara perante os eleitores sem sequer justificar devidamente as suas sentenças.

Os eleitores de Setúbal ficaram a saber que os autarcas do PCP estão ao serviço do partido, que o partido interfere na gestão do município, que não interessa se os autarcas do PCP estão, ou não, de acordo com o partido. É verdade que nas autárquicas votamos em partidos, mas também em cabeças-de--lista. Setúbal deu a vitória ao PCP. Mas não apenas ao PCP. Quem deu a cara pelo PCP, quem o PCP apresentou como o seu rosto para presidente foi Carlos de Sousa e apenas Carlos de Sousa. Se a lei permite substituições é por motivos de força maior. Democraticamente, não é legítimo invocar a "renovação" como motivo. Renovação 10 meses depois da posse? Ou preocupação pelo destino da câmara perante acusações graves? Ou dificuldade na articulação do PCP com os autarcas, aqueles que considera "seus" autarcas? E nós que, às vezes, ingenuamente, pensamos que os autarcas são dos concelhos, dos cidadãos...

24 de agosto de 2006 às 10:07  
Anonymous Anónimo said...

O que poderia ter lógica era o seguinte:

Se a investigação do IGAT concluísse que houve, de facto, irregularidades graves (como parece que houve), seguir-se-iam as consequências previstas na lei.

O que é irritante neste caso é o PCP vir dizer que não é isso que está em causa (mas devia ser!!) e, a partir das suas sedes partidárias, tirar um presidente de Câmara quando quer e lhe apetece.

Ainda por cima, sabe-se agora que o problema tem a ver com as guerrinhas internas entre "ortodoxos" e "renovadores".

E se eles fossem todos brincar com os outros meninos?

Ed

24 de agosto de 2006 às 10:24  
Anonymous Anónimo said...

É engraçada esta situação defendida por um partido que, aquando da saída de Durão Barroso do Governo, exigia eleições antecipadas ao invés da troca de Primeiro-ministro.

Engraçado também é ver os outros partidos, nomeadamente o PSD defender precisamente o inverso que defendeu na altura da saída de Durão.

Por estas e por outras vale a política, perdão, os políticos o que valem. Com todo o respeito pela classe, valem muito perto do ZERO.

24 de agosto de 2006 às 10:57  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Importam-se que eu vote? (*)

Faz agora quatro anos que votei para as autárquicas.

Ora, quando eu julgava que tinha ajudado a escolher as pessoas mais indicadas para tratarem de coisas como o trânsito caótico ou os excrementos de cão na cidade onde resido, eis que Guterres me informa que não foi nada disso! Sem o meu conhecimento (e menos ainda com o meu acordo), alguém decidiu que eu, afinal, tinha votado para correr com o governo dele... e o homem sumiu!

Felizmente, tempos depois, para as eleições europeias, os principais partidos tiveram a gentileza de, atempadamente, nos esclarecer que, afinal, não iríamos votar para elas:

O PS proclamou que a votação seria um «cartão amarelo» ao governo; o PCP também, só mudando a cor para vermelho; e, por fim, o próprio Durão Barroso (concordando com essa leitura quando devia ser o primeiro a contestá-la!), disse que «tinha entendido o sinal do povo», pelo que, logo que pôde, fez as malas e... «Ala!, que se faz tarde!».

E é por tudo isso que, para as eleições autárquicas de Outubro, já estou pelos cabelos só de ouvir a mesma conversa: a rapaziada dos partidos propõe-se pegar no meu (eventual...) voto, desviá-lo, e brandi-lo como se ele fosse dado para apoiar ou rejeitar o governo de Sócrates - um pouco como se eu doasse dinheiro para as vítimas do Katrina e ele fosse direitinho para as campanhas do senhor Major ou de Avelino Ferreira Torres!
____

(*) CMR - Publicado no "Expresso" em 7 Outubro 2005

24 de agosto de 2006 às 11:43  
Anonymous Anónimo said...

Nos tempos da velha senhora (comunista), a Carlos de Sousa teria sido entregue uma arma e uma bala, resolvendo ele assim o problema (de imagem) do partido. Felizmente, as coisas já não se processam assim e, no imediato, o PCP tem de responder pela forma rocambolesca como fez cair um autarca seu.

Rocambolesca porque desde que se tornou pública a investigação do IGAT, o partido iniciou as diligências para retirar ao autarca a câmara. Rocambolesca porque muito antes de o autarca iniciar o processo de demissão, já circulava nos media que o PCP de Setúbal preparava a sua substituição. Rocambolesca, porque nem permitiu ao autarca que lhes garantiu por mais 3 anos Setúbal, a hipótese de se explicar apresentar os motivos da sua demissão. Rocambolesca porque "novas energias" não são desculpa que se engula com facilidade. Rocambolesca, porque parecia uma novela de contratações do Benfica.

Independentemente das atitudes políticas dos partidos da oposição a reclamarem eleições (que são acções que não resultam em nada mas fazem bem ao ego), o que fica é a clara falta de respeito de um partido para com as pessoas que lutam por ele. Quando Isaltino Morais foi indiciado, não se notaram mexidas no sentido de lhe ser retirada a câmara, reuniões de emergência a cairem na praça pública. Muito naturalmente, deixaram ao autarca o tempo de se demitir e preparar a sua substitução, sem que fossem criadas crises internas e o partido fosse colocado em causa na praça pública.

Ao agir como uma criança a quem roubaram um doce (a imagem de que os autarcas comunistas são pessoas de bem), mesmo com Jerónimo de Sousa a meter-se ao barulho (numa tentativa desnecessária e vã de posição de força), o que o PCP consegiu foi:
1 - Conseguir em Carlos de Sousa, se os setubalenses o apoiarem para tal, a sua versão de Isaltino Morais
2 - Passar a imagem de um partido sem estaleca política, incapaz de defender e apoiar os seus
3 - Dar tempo de antena ao "renovadores" para azia e mal de Jerónimo de Sousa e outros que tais

Já agora, se detectaram em Setúbal a necessidade de novas energias em 3 dias, quanto tempo levarão para detectar a necessidade de novas energias num partido podre e a enterrar-se num abismo cada vez maior?

24 de agosto de 2006 às 12:58  
Anonymous Anónimo said...

Tudo, neste caso, é lamentável e ninguém sai bem do filme - desde o PCP ao C. Sousa, passando pelos 60 funcionários que (aparentemente) colaboraram no golpe.

Será que quando C. Sousa decidia fazer um chafariz ou uma passadeira para peões consultava primeiro os organismos do Partido?
À parte o exagero dos exemplos, não há dúvida que sim.

Então se o homem (por muito bom autarca que seja) aceitava ser assim telecomandado a partir das sedes do PCP, o melhor, de facto, foi ter ido à vida.

24 de agosto de 2006 às 13:24  
Anonymous Anónimo said...

O fim do "post" diz tudo (embora ficasse melhor no plural):

«Fraca mente!»

24 de agosto de 2006 às 13:29  
Anonymous Anónimo said...

Já se percebeu que o PCP, por motivos internos, se queria ver livre do homem.

Mas a solução mais inteligente (pelo menos para quem vê a questão de fora, como eu) consistia em esperar pelo resultado do inquérito em curso. Depois, se o homem fosse condenado, então o PCP refirava-lhe a confiança e ficava nuito bem-visto.

Agora vir com essa conversa da renovação?!

«Fracas-mentes», de facto, andam naquelas sedes partidárias!

24 de agosto de 2006 às 14:37  

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