16.10.06

Paul Halmos (*)

FALECEU na passada semana um dos matemáticos mais conhecidos e mais carismáticos do nosso tempo. Tinha nascido na Hungria, mas tinha-se deslocado ainda adolescente para os Estados Unidos, país que tinha entusiasticamente adoptado como seu. Tinha trabalhado com von Neumann e com alguns dos maiores génios do século XX. Tinha deixado contribuições importantes em várias áreas, nomeadamente em probabilidades, análise funcional e lógica algébrica.
Paul Halmos
Era conhecido pelas suas frequentes e animadas intervenções em conferências e revistas científicas. Deixou-nos alguns dos melhores textos matemáticos jamais escritos. E deixou-nos uma autobiografia que é uma peça essencial para a compreensão da matemática no século XX. Começa com uma frase curiosa: «Gosto mais de palavras do que de números.» Para quem conheça os trabalhos deste autor, o dito tem um significado profundo. Ele gostava de conceitos e de os expressar de forma inteligível. Como bom matemático, a escrita era para ele apenas a arte de bem pensar e de bem comunicar matemática, o que continuou a fazer até ao fim da vida.
Na sua autobiografia descreve, no final, de forma simultaneamente irónica e modesta, o que julga serem as suas duas criações mais conhecidas. Uma é a abreviatura «iff», que em português se traduz por «sse» e que quer dizer «se e só se», designando uma condição necessária e suficiente. Não há hoje estudante de matemática que não conheça esta abreviatura. Outra é um pequeno rectângulo que propôs que se usasse como símbolo para marcar o fim de uma demonstração — e que muitos jornais usam para marcar o fim de um artigo. Hoje e aqui usamo-lo como pequena homenagem a Paul Halmos, falecido com a bonita idade de 90 anos. █
(*) Adaptado do «Expresso»

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

NOTA: Na edição em papel do «Expresso» (revista «Única»), o rectangulozinho final foi representado "deitado".

A imagem correcta é "ao alto", como aqui está.

16 de outubro de 2006 às 09:33  
Anonymous Anónimo said...

Curiosidade:

A abreviatura «iff» também significa, em linguagem militar (pelo menos na Marinha de Guerra), «Identification Friend or Foe» (Identificação de Amigo ou Inimigo»).

Um emissor de rádio (associado ao radar) emite um código só conhecido pelos "amigos", cujos sistemas electrónicos respondem automaticamente.

No radar aparece, então (e ao lado de cada "eco"), uma indicação de "amigo/inimigo".

M.

16 de outubro de 2006 às 09:41  
Anonymous Anónimo said...

Quando vi a foto assustei-me:

O Nuno Crato está mesmo velhote!

16 de outubro de 2006 às 17:13  
Anonymous Anónimo said...

Reparo agora que o rectângulo aparece a finalizar muitos textos nos jornais!

17 de outubro de 2006 às 20:42  

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