25.11.06

José Veiga no país das cabalas

ATÉ HÁ CINCO DIAS, nunca tinha percebido como é que José Veiga, após conduzir duas das maiores transferências do futebol mundial - a de Figo e a de Zidane para o Real Madrid -, foi progressivamente perdendo a sua riquíssima carteira de jogadores, até acabar sem estrelas, no banco do Benfica e a ver duas camionetas levaram-lhe os sofás da sala. Nunca tinha percebido, mas percebi ao ver a sua entrevista no Jornal da Noite da SIC, onde ele explicou, sério e muito penteado, que no negócio da transferência de João Pinto para o Sporting no ano de 2000 actuou apenas como amigo do jogador e não como seu empresário. E, como não era empresário, não cobrou um tostão pelos serviços de aconselhamento. Alguém duvida? Eu não me atrevo.
Mas pensem comigo. Quem viu as imagens de há seis anos, agora recuperadas pelas televisões, certamente não conseguiu distinguir a postura do José Veiga-amigo da postura do José Veiga-empresário. O amigo parecia mesmo empresário, e os empresários parecem sempre amigos. E, ainda por cima, o José Veiga-amigo foi tão eficiente quanto o José Veiga-empresário: conseguiu um contrato milionário para João Pinto. Evidentemente, isso foi o princípio do fim. Porque, diante de tanta filantropia, o Figo e o Zidane devem ter imediatamente telefonado a José Veiga. Imagino a conversa: "Ó José, nós também gostamos muito de ti. A partir de agora, queremos o mesmo tratamento do João Pinto: passas a ser só nosso amigo e deixas de ser nosso empresário. É que o serviço é o mesmo e sai-nos muito mais barato."
Aposto que foi assim que tudo se passou, e é pena que José Veiga não tenha aprofundado esta parte na entrevista. Não sei porquê, gastou todo o seu tempo a dizer que estava inocente, a ler uma lista com nomes de dirigentes do Sporting de quem também deve ser muito amigo e, claro, a expor a tese da cabala: isto só acontece porque querem destruir o Benfica. Curiosamente, já o senhor João Vale e Azevedo, um homem honesto e de muito valor, utilizava o mesmo argumento. Este país está cheio de malandros.
João Miguel Tavares
Publicado no«DN» de 25 Nov 06 [PH]

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Já não sei quem é que dizia que «há certos gajos que se topam pelo bafo».

Ed

25 de novembro de 2006 às 20:59  
Anonymous Anónimo said...

Já estou como o Miguel Sousa Tavares, a propósito do António Fiúza, do Valentim Loureiro, do Madaíl e de outros que tais:

«BOLAS!! Livrem-nos desta gente!»

25 de novembro de 2006 às 21:11  

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