22.11.06

«O TGV voador» ou «Dinheiro a voar»?

Por ser muito interessante e actual, aqui se transcreve, por sugestão de Jorge Oliveira, um artigo publicado no Jornal de Negócios de anteontem.
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TGV ou Jumbo para Badajós?
Jack Soifer
Em recente Congresso, a corporação ferroviária insistiu no TGV para Madrid, sem mais estudos. Mostraram como ele uniu cidades em França e Alemanha; troços de 1000 km no meio da UE.
Países pequenos e periféricos como Finlândia, Dinamarca, Suécia e Irlanda, todos com alto PIB "per capita", preferiram o Alfa.
O TGV a Madrid quer transportar 600 a 800 passageiros a uma média de 175 km/h. Leva no mundo real 17 minutos para parar, embarcar e acelerar até 300, usando muita energia. Até Madrid só três paragens são económicas e assim não há integração com o interior. O Alfa a Madrid custaria só 10% do TGV; projecto, carris, sinalização, carruagens, tudo seria feito por cá, ao contrário do TGV onde só daríamos parte da mão-de-obra, pedra e cimento. O Alfa é alta velocidade e leva só mais 20 minutos, mas pára em seis, não só três cidades.
Um orador acusou estudos de economicistas: ‘A tecnologia é para usar’. Não disse que é o contribuinte que não a utiliza quem paga. Na Suécia, o Tribunal de Contas denunciou intransparências e derrapagens de 60% jamais antes vistas, no único micro-TGV lá. Os utentes são a metade do previsto, pois limusinas com 4 a 6 pax cobram menos. As empreiteiras do PPP exigem manter o lucro e o governo as subsidia. Quatro milhões de contribuintes pagam 50€/ano cada, para dez mil privilegiados usarem o TGV. Este fiasco ajudou a queda do governo PS.
Em Espanha, o governo subsidia a RAVE com mil milhões. É provável que aqui cada um de 4 milhões de contribuintes pague 80€/ano nas próximas décadas, para 40 mil TGVistas irem a Badajós. Poucos irão directo a Madrid no TGV. Porque pagar 150€ por 4h, se a "low cost" faz por 70€ em 3h centro a centro?
Carga rápida é boa logística. Na Suécia, 2000T fazem 800 km numa noite, ao máximo de 90 km/h em cada comboio; TGV não ajuda.
Hoje terroristas já não atacam aviões. Um ataque ao TGV é fácil e com muito mais impacto político e económico que ao Alfa. A segurança custará muito mais que o previsto hoje – tudo importado.
Cada tecnologia tem uma aplicação ideal. Valorizemos o que temos e fazemos! Não estamos no Centro da UE, não temos 1000 km nem 80 milhões de habitantes a unir. Uma linha mista, que nos custe um Alfa para seis cidades, sim! Porto a Vigo de Alfa, para já! Mas quem pagará um jumbo para Badajós?

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É assim que se discute: com dados concretos e números, como é feito neste artigo.

Mas nada disso interessa aos fala-baratos de serviço.

Os resultados virão depois, como sucedeu nos casos da Casa da Música, do C.C.Belém, dos Estádios do Euro 2004, da Expo 98...

Ed

22 de novembro de 2006 às 14:54  
Anonymous Anónimo said...

O pior é que a loucura já anda à solta e não há quem a detenha.
Nem com colete de forças...

22 de novembro de 2006 às 14:57  
Anonymous Anónimo said...

Não tenho qualquer dúvida de que o TGV e a Ota não são mais do que pagamentos do Governo aos empreiteiros que, conluiados com certos bancos, são donos do país.
Pagamentos por favores, tachos, financiamentos a partidos, benefícios fiscais...
Toda a gente sabe isto. Só alguns o dizem...
HS

22 de novembro de 2006 às 15:26  

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