Natal?! (*)
Natal… não sei que é.
Natal não conta. O que conta é a vida. Não celebro mais que isso.
O gosto de nos reeencontrarmos e conferir passados. E definirmos o futuro possível. O simples exercício da confraternização ímpia ordenada pelo rigoroso e farisaico calendário.
Sim, não sou cristão. Não sou nada. Acredito absolutamente em tudo e em nada. Respeito todas as celebrações e festas. Seria ideal, aliás, andar de festa em festa, aqui, na Manchúria, no Alaska e no Sry Lanka. E chegar a cada lado e ser, a seu modo, o Natal lá do sítio.
Devia ser bom. Um mundo feliz e bondoso por umas horas.
Mas fico sempre por aqui. E, desculpem lá, nada me convence.
Sei apenas que existo, grande e descuidado, absorto na beleza do mar e da montanha. Sensível ao passar dos dias e à beleza palpável das curvas de teu corpo. E ao mundo inefável onde o teu sorriso e a tua boca me transportam, meu amor. Mas porque dou por mim falando de ti? Não sei. Foge-me sempre a vadiagem para as coisas mais significantes.
Prossigamos então. Serei de todo insensível? Não sou, seguramente. Sou sensível a um mundo de elegâncias e elevadas escolhas que a espaços se constroi, ao arrepio dos momentos maus da vida.
Por isso, se devia aprender a combater a tragédia, apesar desta tragédia imensa de viver de forma colectivamente condenada.
Talvez por isso, celebrar… não sei o quê. Para ser como os outros, talvez. Normalizar-me. Dar presentes. Comer muito. Rasgar prendas.
Natal? Sei pouco disso, amigos.
Sei que meu avô morreu numa noite de Natal. E que minha mãe foi parar ao hospital queimada numa outra noite, por causa dos velhoses. De mim - dessa vida que afinal se conta em aniversários e natais - apenas lembro que nasci, cresci, fui menino, e já fui herói noutro planeta chamado juventude.
E que hoje me habilito ao suave declínio dos dias, nos cabelos grisalhos da mais que improvável sabedoria.
E começo demais a relembrar com indulgência.
De Natal nada sei, amigos. Peço desculpa. Lembro prendas e desilusões. Lembro discussões de chorar e alegrias de voltar. Lembro até fugas propositadas de celebrar. Afinal para quê? Para quê fugir?
Nasci aqui neste planeta, neste lado de cá da história e da cultura judaico-cristã. Neste hemisfério norte, regido por heranças e halos e hossanas de piedade e hipocrisia. Mas se fosse no outro, seria provavelmente igual.
Para quê negar que existe?
Raramente alguém me ouve dizer feliz natal. Não sai. Porque não creio nem um centímetro que no dia seguinte não torne tudo a ser o mesmo. Desejo por sistema um “bom ano”. Isso . Seja!
Um novo ano de natais estupendos e inteligentes. Viva! Isto num país que cada vez menos lê, menos escolhe, menos percebe, menos cultura tem, menos dinheiro tem. Onde o mérito não paga, mas o oportunismo sim.
Natal com licenciados - que custaram uma fortuna aos pais - no desemprego e com velhos contando os cêntimos da reforma para comprar os remédios. Com tachos reluzentes para todos aqueles senhores que sabemos e os sem abrigo ao frio da geada. Com árbitros corruptos no futebol e na vida. Com tudo por fazer e organizar.
Natal?! Isto?! Ficarei vendo o fogo e a pensar. Comerei doces. Cozinharei.
O resto não sei. Só espero que passe depressa.
Assim como assim, estou a precisar de peúgas novas.
E sei que alguém, bondosamente, mas dará.
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Natal não conta. O que conta é a vida. Não celebro mais que isso.
O gosto de nos reeencontrarmos e conferir passados. E definirmos o futuro possível. O simples exercício da confraternização ímpia ordenada pelo rigoroso e farisaico calendário.
Sim, não sou cristão. Não sou nada. Acredito absolutamente em tudo e em nada. Respeito todas as celebrações e festas. Seria ideal, aliás, andar de festa em festa, aqui, na Manchúria, no Alaska e no Sry Lanka. E chegar a cada lado e ser, a seu modo, o Natal lá do sítio.
Devia ser bom. Um mundo feliz e bondoso por umas horas.
Mas fico sempre por aqui. E, desculpem lá, nada me convence.
Sei apenas que existo, grande e descuidado, absorto na beleza do mar e da montanha. Sensível ao passar dos dias e à beleza palpável das curvas de teu corpo. E ao mundo inefável onde o teu sorriso e a tua boca me transportam, meu amor. Mas porque dou por mim falando de ti? Não sei. Foge-me sempre a vadiagem para as coisas mais significantes.
Prossigamos então. Serei de todo insensível? Não sou, seguramente. Sou sensível a um mundo de elegâncias e elevadas escolhas que a espaços se constroi, ao arrepio dos momentos maus da vida.
Por isso, se devia aprender a combater a tragédia, apesar desta tragédia imensa de viver de forma colectivamente condenada.
Talvez por isso, celebrar… não sei o quê. Para ser como os outros, talvez. Normalizar-me. Dar presentes. Comer muito. Rasgar prendas.
Natal? Sei pouco disso, amigos.
Sei que meu avô morreu numa noite de Natal. E que minha mãe foi parar ao hospital queimada numa outra noite, por causa dos velhoses. De mim - dessa vida que afinal se conta em aniversários e natais - apenas lembro que nasci, cresci, fui menino, e já fui herói noutro planeta chamado juventude.
E que hoje me habilito ao suave declínio dos dias, nos cabelos grisalhos da mais que improvável sabedoria.
E começo demais a relembrar com indulgência.
De Natal nada sei, amigos. Peço desculpa. Lembro prendas e desilusões. Lembro discussões de chorar e alegrias de voltar. Lembro até fugas propositadas de celebrar. Afinal para quê? Para quê fugir?
Nasci aqui neste planeta, neste lado de cá da história e da cultura judaico-cristã. Neste hemisfério norte, regido por heranças e halos e hossanas de piedade e hipocrisia. Mas se fosse no outro, seria provavelmente igual.
Para quê negar que existe?
Raramente alguém me ouve dizer feliz natal. Não sai. Porque não creio nem um centímetro que no dia seguinte não torne tudo a ser o mesmo. Desejo por sistema um “bom ano”. Isso . Seja!
Um novo ano de natais estupendos e inteligentes. Viva! Isto num país que cada vez menos lê, menos escolhe, menos percebe, menos cultura tem, menos dinheiro tem. Onde o mérito não paga, mas o oportunismo sim.
Natal com licenciados - que custaram uma fortuna aos pais - no desemprego e com velhos contando os cêntimos da reforma para comprar os remédios. Com tachos reluzentes para todos aqueles senhores que sabemos e os sem abrigo ao frio da geada. Com árbitros corruptos no futebol e na vida. Com tudo por fazer e organizar.
Natal?! Isto?! Ficarei vendo o fogo e a pensar. Comerei doces. Cozinharei.
O resto não sei. Só espero que passe depressa.
Assim como assim, estou a precisar de peúgas novas.
E sei que alguém, bondosamente, mas dará.
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(*) Crónica de Pedro Barroso, oferecida ao «SORUMBÁTICO»
Etiquetas: PB
2 Comments:
Belo e amargo, como tudo o que o Pedro canta. Comovente!
Seja bem-vindo o Pedro Barroso a este blogue!
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