Pica
NA BASE DE DADOS PubMed, que lista trabalhos científicos sobre temas clínicos, uma procura pela palavra-chave «Pica» dá origem a 1431 referências. A mais antiga é um estudo médico realizado no Peru em 1951. A mais recente é um artigo publicado este mês na revista «Psychosomatics». O problema é mais comum do que se julga. No dicionário Houaiss aparece definido como «perversão do apetite» e esclarece-se que provém do latim vulgar «pica,æ ‘pega’ devido ao facto de esta ave ingerir qualquer coisa». O próprio verbo «picar» e vocábulos relacionados têm a mesma etimologia.
Vários artigos científicos recentes revelam tratar-se de uma perversão que pode ser mais séria do que se supõe. O artigo da revista «Psychosomatics» descreve uma mulher grávida que ingeria diariamente uma caixa de bicarbonato de sódio (454 g). Mas o caso mais famoso, e também o mais caricato, é o de uma mulher francesa de 62 anos que entrou no hospital queixando-se de dores de estômago. Uma radiografia revelou que a paciente tinha esse órgão dilatado por aí ter cinco quilogramas de moedas, no valor de mais de quinhentos euros. Imagina-se que o dinheiro recuperado tenha sido uma ajuda para pagar a operação.
Há casos mais tristes, por revelarem uma pobreza extrema. É o que se passa com a chamada geofagia, que consiste na ingestão de terra. Regista-se com demasiada frequência em zonas muito pobres de África, da América Central e da China. Estudos recentes de análise química avançada revelam que os solos mais procurados são os que têm nutrientes minerais importantes, como ferro, cálcio e potássio. São hábitos antigos e aparentemente bizarros, mas só agora começam a ser compreendidos.
Adaptado do «Expresso»
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