28.12.06


EM ÉPOCAS de muito tráfego, ao ouvir as habituais entrevistas com os homens das Brigadas de Trânsito, fico sempre com a ideia de que as televisões podiam poupar muito dinheiro.
Faziam assim:
Juntavam em estúdio uma dúzia de agentes fotogénicos e bem-falantes, punham em fundo umas imagens de carros amolgados, e, com pouco trabalho, despachavam em meia hora entrevistas que seriam válidas por muitos anos e maus. E isso porque, infelizmente, o que há a dizer é quase sempre o mesmo - com variantes apenas de pormenor:
«Registaram-se mais acidentes, mais feridos e mais mortos do que em igual período do ano passado. O principal motivo foi o excesso de velocidade...».
Claro que seria interessante discorrer sobre a responsabilidade de quem permitiu que fossem - e continuem a ser - dadas cartas de condução a assassinos e suicidas, mas isso é assunto que não cabe aqui, além de que a culpa deve ser... da Sociedade.
O certo é que, para muitos "artistas do volante", qualquer coisa acima de 0 km/h é, de facto, "excesso de velocidade".
Recordo-me de uma pessoa amiga que um dia, em plena Baixa, chocou com um cilindro. Garantia, e falando muito a sério, que a culpa fora do outro...
«EXPRESSO» - 13 Abr 02

1 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Uma verdade parcial

O ACP acusou o MAI de uma total ausência de políticas de prevenção rodoviária e de medidas concretas para diminuir a sinistralidade. Talvez tenha alguma razão, excepto quando refere, explicitamente, "este" ministério – e explico porquê:

Em tempos que já lá vão, houve um instrutor e um examinador que me deram como "apto para conduzir " apesar de eu nunca ter guiado de noite, nem com chuva, nem com nevoeiro, nem a mais de 40 km/h. Trinta anos depois, sucedeu exactamente o mesmo com o meu filho - o que não teve nada de extraordinário, pois mais não foi do que a aplicação prática da ideia que "se aprende a guiar depois" - o que até pode ser verdade se os assassinos e desastrados (que esse sistema permite que circulem nas nossas estradas) derem, aos outros, suficiente tempo de vida…

28 de dezembro de 2006 às 11:00  

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