22.1.07

Dantes, como agora - o fascínio pelos tachos

O poderio português no Oriente teve muito a ver com a sua artilharia, bem patenteada no museu atrás referido (que, por sinal, começou por se chamar «de Artilharia»):
Calibres gigantescos e alcances muito superiores aos do inimigo iam a par de um eficaz controle de qualidade (p. ex.: ao fim de uns 100 tiros, aprox., as peças eram refundidas para evitar que explodissem).
Olhando para aqueles canhões monstruosos (que guarneciam as fortalezas e as naus, mas também eram usados em campo aberto) percebe-se que eram um bom complemento para a coragem de quem os usava.
O autor deste interessantíssimo livro chegou a fazer experiências com armas dessas e, na obra, refere casos de pelouros que, depois de furarem navios inimigos de lado a lado (afundando-os de imediato), ainda tinham energia suficiente para danificar outro, por detrás desse.
O tiro naval sofria de uma limitação: para poder afundar um navio, o projéctil precisava de o atingir abaixo da linha-de-água (ou muito próximo dela). Para atingir esse objectivo, os artilheiros portugueses especializaram-se em tiro rasante, em que os pelouros, lançados por canhões muito baixos, iam ressaltando na água.
O uso, em combate de campo, de projécteis de areia misturada com cal (cegando os inimigos) é também referido neste livro, que ainda nos faz saber que, em Portugal, não há uma única armadura do séc. XV inteira. Numa demonstração de como sempre fomos um povo criativo, elas foram sistematicamente transformadas em tachos e panelas, e as próprias cotas-de-malha retalhadas e vendidas, nos mercados, como esfregões para a loiça.
A única armadura portuguesa completa dessa época é, por curiosidade a de Duarte de Almeida ("O Decepado"), o famoso herói da batalha de Toro. Encontra-se numa vitrine da catedral de Toledo e, talvez por isso, tenha escapado à sorte da que se vê na imagem de baixo: transformada em tampa de panela.