15.1.07

Endogamia

NO BALANÇO de 2006, o Instituto Gulbenkian de Ciência organizou o seu habitual encontro de investigadores. A reunião terminou com um debate sobre a endogamia na universidade portuguesa. O nome parece uma brincadeira de biólogos, pois endogamia é a fecundação entre seres geneticamente próximos ou, em termos sociais, o casamento dentro de um grupo fechado.
O termo surgiu na gíria académica anglo-saxónica como «inbreeding», e traduz-se em português por «endogamia» ou «consanguinidade». Trata-se de uma das maiores pechas do sistema universitário português e consiste na auto-reprodução dos professores. Infelizmente, ainda é muito habitual entre nós que os assistentes universitários sejam recrutados entre os estudantes de uma universidade e que depois aí fiquem, aí se doutorem e aí perpetuem a sua vida académica. O problema é grave, não só pelas redes de compromissos que se estabelecem, e que são o oposto das relações profissionais descomprometidas, como também pela perpetuação das limitações de cada escola. É um facto estatístico, medido pelas publicações científicas, que a produtividade académica é tanto menor quanto maior a endogamia.
Em sistemas mais abertos, como o são o norte-americano e o alemão, o percurso dos investigadores e professores universitários é completamente diferente. Quem tira a licenciatura numa universidade é incentivado a prosseguir os estudos de pós-graduação numa outra. Depois do doutoramento, se concorrer a um lugar universitário, evita as instituições por onde passou. E estas evitam os candidatos que por lá passaram, pois não querem pessoas que reproduzam as limitações inerentes a cada escola, mas sim as que trazem experiências novas e alargam as perspectivas de investigação.
Adaptado do «Expresso»

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