A cirurgia do “Photoshop”

TODOS SABEMOS como as televisões promovem a cirurgia estética. São programas, são novelas e séries, são “reality shows” a venderem a medicina estética e a cirurgia plástica. Mas ninguém nos fala ou dá conta da prática subreptícia da cirurgia estética no papel “couché”. É a cirurgia do “Photoshop”.

Alguém desatou a perseguir fumadores, retocar papadas, derreter celulite, apagar rugas, disfarçar cicatrizes. Alguém quer criar um ser fictício com toques, tiques e traços de pessoas reais – que é exactamente aquilo que faz um romancista quando molda uma personagem, inventando-lhe uma psicologia, um rosto, uma estatura, um modo de falar, uma forma de andar, uma maneira de estar.

Tal como na literatura, o “Photoshop” tem remédio. Não é irreversível e é mais criativo do que a cirurgia estética. As mulheres não ficam com as mesmas nádegas, as mesmas bocas, as mesmas bochechas, o mesmo nariz, o mesmo sorriso e os mesmos seios. E encantam as vítimas incautas, incapazes de as reconhecer quando levantam os olhos das revistas e dão com elas, cara a cara.

«25ª HORA» - «24 horas» de 12 Fev 07