12.2.07

As faixas da ilusão

Desenho - oferta do autor, F' Santos
Recentemente, autarcas da Margem Sul do Tejo (*) reivindicaram o alargamento da A2 para 4-faixas-4.
Salvo melhor opinião, essa é a chamada solução autofágica, bem conhecida dos urbanistas de todo o mundo, na medida em que um aumento do número de faixas (sem outras medidas) acaba por, a prazo mais ou menos curto, se revelar ineficaz (por propiciar - precisamente - o agravar do mal que pretende combater):
Primeiro porque, se o destino não tiver alterações, uma fila de 12 km com 3 faixas apenas se converte numa fila de 9 km com 4 faixas (e isso se, optimisticamente, se mantiver o número de carros).
Depois porque, numa primeira fase, inúmeras pessoas que não usavam o carro, passam a usá-lo.
Finalmente porque, havendo "melhores acessos", dispara a construção suburbana e, com ela, mais carros.
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(*) Corecção: segundo o «Público», a exigência foi de deputados do PSD e não de autarcas. A estes, as minhas desculpas pelo facto de ter menosprezado a sua inteligência.

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"Autofágico" significa "que se come a si próprio".

Tal como num "círculo vicioso", a pretensa solução acaba por alimentar o problema em vez de o resolver.

É uma armadilha em que a toda a hora caem autarcas (e políticos em geral). E isso sucede tão mais facilmente quanto o dinheiro que gastam não é seu...

12 de fevereiro de 2007 às 17:55  
Anonymous Anónimo said...

Em Los Angeles, já há autoestradas com 12 faixas, que estão tão engarrafadas como quando tinham 10 ou 5.

12 de fevereiro de 2007 às 17:57  
Anonymous Anónimo said...

Pode ter interesse o aumento do número de faixas para SAÍDA das cidades (saturadas), mas nunca para a sua ENTRADA.

R.

12 de fevereiro de 2007 às 18:00  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

R.,

Sim, tem razão.

O post refere-se às vias de ACESSO a cidades já ultra-saturadas (como Lisboa), onde o nº de carros que lá entra (durante a semana) é de 450 mil/dia!

Pense-se que o nº de habitantes é dessa ordem de grandeza e que a maioria dos carros leva apenas 1 pessoa.

É um problema 100% político, que autarcas e governantes NÃO TÊM CORAGEM para encarar - quanto mais para resolver!

12 de fevereiro de 2007 às 18:29  
Anonymous Anónimo said...

Na minha opinião, as cidades dormitório, à medida que crescem, mais problemas de tráfego criam, em direcção à "cidade mãe".
Isto é o que está acontecer no Porto! A cidade mãe está cada vez mais vazia à noite, exeptuando os locais de diversão nocturna, o que é pouco significativo!
Concordo completamente com o seu texto!
É como os IP´s, em vez de levarem a população para o interior, trazem população para o litoral...Qualquer dia Portugal enclina-se para o Atlântico com tanto peso!
Há tantas coisas a dizer que me perdi!
Espero ter ajudado alguma coisa, a desenhar e a criticar (desmascarar), sempre pela positiva, sou mais fluente!

Um abraço
AFS

12 de fevereiro de 2007 às 22:41  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

NOTA:

AFS, que assina o comentário anterior, é o autor do desenho aqui apresentado.

12 de fevereiro de 2007 às 23:54  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

No blogue «O Carmo e a Trindade» (http://carmoeatrindade.blogspot.com) o assunto também foi abordado, tendo um leitor defendido que um engarrafamento de 9km com 4 faixas é melhor do que um outro de 12km com 3 faixas (sendo o nº de "carros engarrafados" igual).

A resposta que lhe foi dada foi a seguinte:

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Em questões como esta, a grandeza que verdadeiramente interessa é o "número de veículos por unidade de tempo".

No caso de estradas que têm estrangulamentos (caso da Ponte 25 de Abril com as suas 3 faixas que, hipoteticamente, daria seguimento a uma A2 com 4 faixas - para já não falar no limite de fluxo imposto pelas portagens), o que limita tudo é "o fluxo máximo possível no ponto de fluxo mínimo".

No entanto, pode não haver esses estrangulamentos pelo caminho mas haver um outro limite semelhante: a capacidade de absorção da urbe de destino - quer no aspecto de veículos no total, quer em veículos entrados / unidade de tempo.

A situação aqui abordada é equivalente à de um barril que alguém está a encher com uma mangueira e que acha que pode aumentar a velocidade de enchimento usando uma outra mais grossa.

Como é evidente, se a entrada do barril não permitir que ele receba mais do que x litros/minuto, bem podem alargar a mangueira até ao diâmetro de um elefante - o limite é imposto pelas características do "receptor" e não pelas do "emissor".

13 de fevereiro de 2007 às 22:42  

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