11.2.07

A promulgação

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA promulgou a Lei das Finanças Regionais. E fê-lo "dissipadas que foram as dúvidas de constitucionalidade" e "após cuidada ponderação dos diversos interesses em presença".
Para uma resposta de circunstância e orgulho ferido foram convocados novos heterónimos de Alberto João Jardim: no caso, além da Fama (que, a tê-la, é má), os deputados Miguel Mendonça (também presidente da Assembleia Legislativa) e Gabriel Drumond. Pudemos assim ver a elite do jardinismo comparar Cavaco a Pôncio Pilatos e acusá-lo de "receio" perante o Governo (que é "mentiroso e caloteiro") e de "deslealdade" para com os madeirenses (que "o elegeram"). Entre muitas mais acusações, só não houve uma palavra para retomar as insinuações independentistas e as ameaças de demissão de Jardim para provocar eleições.
Filmado pela televisão no Funchal, um transeunte de bom trajo e melhores falas justifica a decisão de Cavaco, sublinha que ele é insuspeito porque até "é do mesmo partido" e conclui, desdramatizando, que a verba da discórdia nem é assim tão grande: bastaria o Governo Regional deixar de subsidiar o "seu" jornal e os clubes de futebol da Madeira. Vi nisto auspícios para os três grandes problemas que nos estão colocados.
O problema de Jardim foi a surpresa de finalmente encontrar no Governo central uma atitude de firmeza: nunca lhe respondeu por palavras (Sócrates fê-lo na Madeira, mas enquanto secretário-geral do PS), mas não cedeu no exercício das suas competências. Mas foi também aquele que aqui escrevi em 26 de Março do ano passado: "Talvez um dia Jardim perceba que a eleição de um Presidente oriundo do PSD (no caso, aquele a quem bondosamente tratou por "Sr. Silva") pode não ter sido um episódio feliz da sua vida".
O problema da Madeira é a renovação a prazo de uma equipa dirigente formada no caciquismo, na impunidade, na demagogia, na irresponsabilidade, na retórica independentista, no desbragamento verbal e na total ausência de solidariedade, institucional e nacional. E mesmo que hipoteticamente na oposição, este problema não se resolve, sem delongas e custos escusados, enquanto o PSD o encobrir e não se empenhar também na solução.
Finalmente o problema de Portugal: o que esperam os ansiosos da regionalização (administrativa) enquanto a imagem que dela tem o eleitorado possa aparecer marcada pela Madeira de Alberto João Jardim?
«DN» de 11 Fev 07

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