14.2.07

O prazer do inútil

TINHA UMAS TIAS-AVÓ que me davam pijamas, camisolas e meias quando eu fazia anos ou estávamos no Natal. Julgo que por causa disso detestei sempre os presentes utilitários.
A única tia de quem eu gostava era a tia Alice, que me dava brinquedos fantásticos ou coisas bonitas que não serviam rigorosamente para nada. Talvez por isso, aprendi a gostar de inutilidades e fiquei a apreciar receber, ou oferecer, algo que preste, mas não sirva para coisa nenhuma.
Uns auscultadores com rádio, um fio de ouro para acorrentar a uma botoeira um relógio de bolso, uma bengala com castão de prata, uma mola em ouro para trazer notas no bolso, um alfinete de gravata, uma guilhotina para charutos, uma caixa de música para cigarros são das inutilidades de que eu gosto.
Já prezo menos um daqueles livros – objecto com trabalhos de “Photoshop” para ter em cima duma mesa de café. Um presente bonito deve ter boa parte de inutilidade. Um funil em aço para passar o vinho duma garrafa para um “decanter” é algo tão útil que perde a graça. A menos que tenha um “design” superior. O que não é fácil de conseguir em exclusivo.
«25ªHORA» - «24 horas» de 13 Fev 07

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