Tiago Monteiro, ó génio português
AO FIM DE DOIS ANOS de corridas, Tiago Monteiro abandonou a Fórmula 1. Mas até ao último momento manteve a postura altiva e confiante de um piloto fora de série, que só não chegou ao Olimpo do automobilismo por uma série de infortúnios, azares e malapatas. Tiago Monteiro é um case study sobre a construção do patriotismo bacoco que tanto nos alegra, apoiado numa comunicação social desportiva que, à boa imagem do país, tem uma irresistível tendência para confundir qualquer português talentoso com um génio planetário. Porque, de facto, a acreditar no que dele se disse e escreveu, Tiago Monteiro não era menos do que o Cristiano Ronaldo da pilotagem.
Tantos o garantiram que ele próprio passou a acreditar. No comunicado onde informa que esta época não vai correr na Fórmula 1, em altura alguma diz: "Meus caros, eu esforcei-me, mas não arranjei equipa." O que ele afirma é, e passo a citar (reparem nos verbos conjugados na terceira pessoa, como é próprio de génios e futebolistas): "Tiago Monteiro não vai aceitar nenhuma das propostas que lhe foram feitas por parte de equipas de Fórmula 1 para 2007", por não "reunirem as condições que merecia." Que é uma maneira de dizer: eu não me vou embora por não estar à altura de uma equipa; vou-me embora por não ter uma equipa à minha altura. Aliás, Tiago Monteiro garante que no próximo ano estará apenas a ganhar balanço para regressar em grande lá para 2008. É mentira, claro, mas convém não o desanimar.
Tantos o garantiram que ele próprio passou a acreditar. No comunicado onde informa que esta época não vai correr na Fórmula 1, em altura alguma diz: "Meus caros, eu esforcei-me, mas não arranjei equipa." O que ele afirma é, e passo a citar (reparem nos verbos conjugados na terceira pessoa, como é próprio de génios e futebolistas): "Tiago Monteiro não vai aceitar nenhuma das propostas que lhe foram feitas por parte de equipas de Fórmula 1 para 2007", por não "reunirem as condições que merecia." Que é uma maneira de dizer: eu não me vou embora por não estar à altura de uma equipa; vou-me embora por não ter uma equipa à minha altura. Aliás, Tiago Monteiro garante que no próximo ano estará apenas a ganhar balanço para regressar em grande lá para 2008. É mentira, claro, mas convém não o desanimar.
Tal como Pedro Matos Chaves e Pedro Lamy, dois ex-génios da Fórmula 1, Tiago Monteiro era de estalo - mas o destino pregou-lhe maldosas partidas. Durante os dois anos que por lá andou, a crer nas notícias, nada do que lhe aconteceu foi alguma vez responsabilidade sua: foi dos travões, da embraiagem, da caixa, dos pneus, da direcção, do motor, do piso, da chuva, do sol, do colega de equipa, da conjugação dos astros, da Lua na terceira casa, do diabo a quatro. Dentro de si, bem dentro de si, Tiago Monteiro tinha tudo para ser um Michael Schumacher. Mas o azar... Ai, o azar...
João Miguel Tavares - «DN» 17 Fev 07 [PH]
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