Zeca sempre ao fim de 20 anos
FAZ HOJE 20 ANOS que o homem partiu deixando-nos o mundo.
Ficámos mais pobres, mais órfãos do saber e do viver.
Hoje, reflectindo o espanto de tantas mortes progressivamente convividas, pergunto-me se não haveria mais do que o cantor no nosso peito. Claro que havia. O Homem, o Filósofo, o Poeta, o Amigo.
Havia seguramente o seu ar desleixado e non chalant, o seu sorriso maroto por detrás dos óculos grossos, a sua atenção desatenta, as suas gaffes proverbiais, a sua indiferença perante o bem parecer, a sua permanente preocupação pedagógica, a sua reflexão inteligente, imediata.
Eram e foram também vinte anos a mais que acumulámos em raiva comedida e erros e saudade. Saudade que passa também por nós próprios, companheiros que cantámos com ele por esses palcos fora talvez algumas horas de sol e ré ao som da chula da Póvoa, que, pelo menos essa, todos nós sabíamos.
- Oh Pedro, tu que tens esse boieiro todo, ataca aí, que eu ando com pigarro...- dizia-me ele com humildade. Disparate! Alguém queria saber de mim? Era ele o desejado, a figura maior do nosso acreditar.
Zeca e outros, era assim que se anunciava.
Por vezes, mesmo sem ele próprio saber que tinha sido anunciada a sua presença naquele sítio e lugar.
E nós, companheiros de palco, éramos os outros. Pacificamente e sem inveja. Com um orgulho imenso de o sermos.
Pois seremos nós, hoje, os outros todos, que lembramos. O povo que deixaste.
Mas o exemplo universal do homem probo e bom, do homem que nada quis para ele e mudou a paisagem sonora de tudo o que crescemos, de tudo o que aprendemos, esse exemplo fica.
Vinte anos já, Zeca?
Foi ontem que morremos todos um pouco contigo.
Se não acreditas, vê só até onde isto já veio parar. Ouve e vê.
E morramos outra vez de susto, neste choupal imenso de agonia e cupidez.
Deixa-me sonhar.
A catedral está ainda toda por fazer.
Ficámos mais pobres, mais órfãos do saber e do viver.
Hoje, reflectindo o espanto de tantas mortes progressivamente convividas, pergunto-me se não haveria mais do que o cantor no nosso peito. Claro que havia. O Homem, o Filósofo, o Poeta, o Amigo.
Havia seguramente o seu ar desleixado e non chalant, o seu sorriso maroto por detrás dos óculos grossos, a sua atenção desatenta, as suas gaffes proverbiais, a sua indiferença perante o bem parecer, a sua permanente preocupação pedagógica, a sua reflexão inteligente, imediata.
Eram e foram também vinte anos a mais que acumulámos em raiva comedida e erros e saudade. Saudade que passa também por nós próprios, companheiros que cantámos com ele por esses palcos fora talvez algumas horas de sol e ré ao som da chula da Póvoa, que, pelo menos essa, todos nós sabíamos.
- Oh Pedro, tu que tens esse boieiro todo, ataca aí, que eu ando com pigarro...- dizia-me ele com humildade. Disparate! Alguém queria saber de mim? Era ele o desejado, a figura maior do nosso acreditar.
Zeca e outros, era assim que se anunciava.
Por vezes, mesmo sem ele próprio saber que tinha sido anunciada a sua presença naquele sítio e lugar.
E nós, companheiros de palco, éramos os outros. Pacificamente e sem inveja. Com um orgulho imenso de o sermos.
Pois seremos nós, hoje, os outros todos, que lembramos. O povo que deixaste.
Mas o exemplo universal do homem probo e bom, do homem que nada quis para ele e mudou a paisagem sonora de tudo o que crescemos, de tudo o que aprendemos, esse exemplo fica.
Vinte anos já, Zeca?
Foi ontem que morremos todos um pouco contigo.
Se não acreditas, vê só até onde isto já veio parar. Ouve e vê.
E morramos outra vez de susto, neste choupal imenso de agonia e cupidez.
Deixa-me sonhar.
A catedral está ainda toda por fazer.
Etiquetas: PB
2 Comments:
Caro Pedro Barroso,
Obrigado por este texto em memória do Zeca Afonso, pessoa que tanto nos ajudou nos tempos difíceis, com a sua voz, exemplo, coragem... e até humor.
Rosário M.
Gostei desta crónica, sim senhor!
Um abraço
do seu admirador
Duarte R.
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