18.3.07

Óbidos, hoje

SOBRE A HORA H de Óbidos, os observadores habituais esperam que Paulo Portas leve a sua avante. Possivelmente, já no Conselho Nacional, travando a ideia do congresso. Senão, será de outra forma e noutro momento. Porque, contados os trunfos como se fossem espingardas, só dois parecem restar aos históricos democratas-cristãos: o número, nunca precisado, das inerências de que dispõem no Conselho Nacional e o próprio Ribeiro e Castro.
Provavelmente não chega, mas este último não é um trunfo de somenos. Talvez ele tenha sido, até agora, um fraco líder: foi-o, pelo menos, ao não perceber que não reunia à partida quaisquer condições objectivas para impor a sua liderança. Mas, por menos convincente que seja a sua pose de estadista, ele é um gladiador. Sozinho, no mato, é bem mais Rambo que McGyver. Solto, com tropas (mesmo escassas) no terreno, a sua arte da guerra é a simbiose improvável dos grandes generais heterodoxos e criativos, de Quintus Fabius Maximus a Vo Nguyen Giap. Beligerante, ele tem notáveis aptidões para a guerra de atrito, a guerrilha, a usura e a diversão. E já se foi posicionando em conformidade com elas: enquanto esgrime com os estatutos, recoloca Freitas (e coloca Portas...) na galeria dos egrégios (e egressos) do partido; enquanto lhe preparam a resposta, já ele anuncia um abaixo-assinado de militantes, abrindo uma nova frente legitimadora do congresso; enquanto se afadigam num contra-abaixo-assinado, já ele reclama a actualização dos ficheiros, como condição da verdade das directas.
Dir-se-ia ser ele o desafiador, não o desafiado. Dir-se-ia ser ele, e não Portas, o jovem beligerante ambicioso e pragmático. Mas estas são qualidades de um challenger, não de um incumbent. De quem desafia, e não de quem é desafiado. E por temíveis que o tornem em congresso, já permitiram a Portas - que não tem menos horror ao vazio do que a própria natureza - posicionar-se em incumbent: ele será "presidente de todo o partido" e não entrará em "polémicas" (nem ao som do "Rei Artur").
Segundo o DN, Ribeiro e Castro terá dito: "Represento mais espaço eleitoral do que eles." Talvez seja verdade, talvez o trauma de 2005 ainda estrebuche. Mas tudo se vai resolver num Conselho Nacional, num congresso ou numas eleições directas. E, por muito que nos custe, raramente os órgãos partidários estão nessa cândida e linear harmonia com o eleitorado, real ou virtual, do partido.
«DN» - 18 Mar 07

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2 Comments:

Blogger lino said...

O Nuno deve estar a ficar caquético.
E o Quintus Fabius Maximus e o Nguyen Giap devem dar gargalhadas no túmulo, ao serem comparados com tal anedota.
Pior, só mesmo o paulinho das feiras.
É caso para dizer que, quando os articulistas não têm nada para comentar, mais valia estarem calados.

18 de março de 2007 às 19:05  
Anonymous Anónimo said...

Pelos textos que conheço do NBS ele, aqui, recorreu a uma antífrase - perfeitamente adaptada às personagens de opereta em causa.

Ed

18 de março de 2007 às 19:11  

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