ELE HÁ GANHAR E HÁ PERDER
Por Nuno Brederode Santos
NÃO É DE AGORA que Marques Mendes não pára de chocar os ovos da serpente. Há muito que, no seu quartel-general em Gaia, Luís Filipe Menezes anunciou o propósito de o render na Rua de S. Caetano. Desdobrando-se, desde então, em iniciativas: colóquios, prémios, um blogue regular com o seu nome, um clube de reflexão muito mediático, o hábil aproveitamento de uma tribuna na SIC Notícias e comentários constantes e públicos aos erros, reais ou alegados, da liderança do seu partido. Tendo escolhido o meio da legislatura para o seu forcing interno, as eleições para a Câmara de Lisboa vieram proporcionar-lhe um bom terreno para radicalizar o combate (na exacta medida em que o mesmo terreno é o pior possível para Marques Mendes). Assim, depois de criticar o caos de Lisboa e a inacção de Mendes para lhe pôr cobro, Menezes critica o modo e as circunstâncias da ordem dada para a queda da Câmara, isenta Fernando Negrão de culpas no resultado eleitoral e reclama um congresso para o Outono.
Santana Lopes não lhe fica muito atrás. Desorganizado, impulsivo, caprichoso e tacticista, invoca amiúde as inibições que a si mesmo deve impor quem já foi primeiro-ministro, mas a prática desmente-o. Hoje explica as razões do silêncio que irá respeitar, para amanhã aparecer a dizer o que alega não poder calar. Anuncia o low-profile no Parlamento, mas já se tornou no maior imponderável das actuações parlamentares da sua bancada. É provável, no entanto, que faça tudo isto pelo panache de um estatuto que receia (sem razão) que nós esqueçamos e que tenha já por claro que esse seu passado é irrepetível. Seja como for, tem sido um poderoso instrumento de perturbação e usura da liderança de Marques Mendes e está na primeira linha dos que reclamam uma severa prestação de contas por Lisboa. O ter já, aparentemente, percebido que a insinuação de uma cisão no PSD mais alivia do que ameaça o líder, só o torna mais perigoso (mesmo sem proveito próprio).
Fora deste pacto a dois, os famosos do baronato partidário não querem melhor a Mendes. Os mais envolvidos no "Compromisso Portugal" querem dar luta ao Governo numa jogada que leve Belém na roda. A maioria dos outros acantona-se na vida profissional: das guerras, só trava a última batalha. Mas costuma chegar a tempo disso.
Quanto aos mais "institucionais", é certo que António Borges se deixou ficar para trás à conta de uma birra infantil. Mas Manuela Ferreira Leite mantém intacto o seu poder interno, parecendo querer certificar-se da expectativa de vida da "cooperação estratégica". O que em nada afecta a sua previsível influência num eventual congresso de meia legislatura.
Enfim, a estes acresce quem se perfila no horizonte: Paula Teixeira da Cruz que, ao impor na lista os homens do aparelho da distrital, tornou patética a estratégia de ruptura com a vereação anterior que Fernando Negrão está a seguir. Na hora de uma mais do que plausível derrota, o partido quererá saber a quem a deve imputar. Não podendo culpar o candidato (pois que a ele só se chegou após a recusa dela), só lhe resta juntar-se aos idos de Março da Lapa.
Perder Lisboa não é, para o PSD, um episódio que se redima com clichés de circunstância, como "a democracia é assim mesmo, ele há ganhar e há perder". Perder Lisboa é jogar fora a melhor posição de poder de que o partido dispunha. Mas sobretudo perder Lisboa assim - pela incapacidade de uma equipa que o líder escolheu pessoalmente, pelo abraço de urso com que tão prolongadamente a quis salvar e, finalmente, pela iniciativa de a fazer implodir - é razão de sobra para uma revolta tribal à qual bastava um pretexto.
Mais entalado do que protegido por uma escassa guarda pretoriana de fiéis, Marques Mendes encara agora a mais tremenda prova de fogo dos seus dias de líder. O que, diga-se, nem deve ser uma perspectiva agradável para o Governo. Ao qual também só pode dizer-se que a democracia é assim mesmo, ele há ganhar e há perder.
«DN» de 10 de Junho de 2007
Etiquetas: NBS
2 Comments:
Desculpa lá, o Medina, amigo de longa data, mas o teu colega de blog, Nuno Brederode Santos, não sabe escrever sobre outra coisa senão isto?
Já farta de tanta análise psicadélica sobre o Marques Mendes, o Santana Lopes e mais não sei quantos palermas do PSD. Eu, que já fui militante do PSD, observei-os de perto e confirmo que esta gente não vale um caracol. Mas para quê escrever todas as semanas um artigo a malhar neles?
Na verdade, o que mais me preocupa, e deve preocupar o país, são os velhacos do PS, uma seita perigosa, de gente muito habilidosa a meter a mão no saco das esmolas. Tanto, que raramente aparecem como arguidos. Excepto quando tocou à pedofilia, em que se espalharam ao comprido. Ainda assim, lá foram bem sucedidos a libertar os seus. Até montaram arraial na Assembleia da República para festejar.
Alguma vez o Brederode Santos escreveu sobre este nojo?
Jorge Oliveira
Desculpe lá ò Medina mas com amigos destes você só se desqualifica.
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