Passeio Aleatório
Iões e recessões
Por Nuno Crato
AS TEMPESTADES SOLARES não partem mastros de navios nem fazem voar os telhados. Pouco são sentidas nos oceanos e nos continentes, pois o nosso planeta está protegido pelo seu campo magnético e pela sua atmosfera, que amortecem o efeito das partículas lançadas pelo Sol a alta velocidade. Mas os jactos de electrões, protões e iões acelerados pelas explosões solares podem avariar os sistemas electrónicos dos satélites e pôr em causa a saúde dos viajantes espaciais. O mais preocupante são os iões, ou seja, átomos que perderam parte dos electrões que anulavam a sua carga eléctrica total.
Como as explosões solares são, até à data, imprevisíveis, tudo o que ajude a prevê-las, mesmo que seja apenas com alguns minutos de avanço, pode ser o suficiente para os astronautas se poderem proteger e para desligar os equipamentos ou colocá-los em estado imune às descargas eléctricas. Parece estar a caminhar-se nesse sentido, por via de um trabalho de análise de séries temporais de tempestades solares efectuado recentemente na NASA.
A técnica usada é semelhante à que economistas usam para prever recessões e retomas da economia. É a chamada técnica dos indicadores avançados, que denotam pontos de viragem antes de os fenómenos de mais interesse registarem essas inflexões. Em economia, a retoma da construção civil, por exemplo, pode antecipar a retoma do investimento global. Nas tempestades solares, descobriu-se que certos padrões de jactos de electrões, menos perigosos, precedem os jactos de iões pesados.
Através de técnicas de correlação de séries multivariadas está-se a caminhar para maior segurança no espaço.
A mesma matemática serve a economia, os astronautas e os satélites.
Adaptado do «Expresso»
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