PASSEIO ALEATÓRIO
Estatísticas Reveladoras
Por Nuno Crato
Por Nuno Crato
EM 26 DE ABRIL DE 1478, um grupo de conspiradores tentou decapitar a poderosa família Medici esfaqueando os irmãos Lorenzo e Giuliano. Este morreu, mas o primeiro acabou por sobreviver e reforçar o seu domínio sobre Florença. Soube-se na altura, e os historiadores confirmam-no, que por detrás do golpe esteve o papa Sixtus IV. Julgava-se que se tratava de uma iniciativa de Pazzi, um banqueiro rival dos Medici. Recentemente, contudo, a descoberta de uma carta de Federico da Montefeltro veio a revelar ter sido este último, um insuspeito amante das artes, o organizador da conspiração.
A carta foi descoberta em 2001, mas só mais tarde foi descodificada. O duque tinha-a escrito de acordo com um sistema criptográfico de substituição de letras. A chave de correspondência tinha-a ele e o receptor da mensagem, no Vaticano. Uma vez percebido o sistema, não foi difícil descodificar a carta. Bastou usar uma técnica estatística, registando a frequência das diferentes letras na mensagem e fazendo a correspondência para a frequência com que as letras aparecem em italiano. Assim, por exemplo, sabe-se que as letras A e E são as mais frequentes — vendo as letras que mais apareciam na carta cifrada, concluiu-se que essas representariam A e E.
Os sistemas de codificação modernos são muito mais sofisticados, baseiam-se em técnicas matemáticas desconhecidas na Renascença. A carta de Federico e muitos dos seus preciosos pertences estão agora expostos num dos espaços culturais mais simpáticos de Nova Iorque, a Morgan Library. E toda a história pode ser lida no respectivo catálogo, editado pela Biblioteca Apostólica Vaticana. Ela própria.
Adaptado do «Expresso»
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