9.8.07

25ª HORA

Ignomínia e indignidade
Por Joaquim Letria
COMO PODEM FAZER o que fizeram a Dalila Rodrigues, directora do Museu de Arte Antiga, que fez mais pelos museus por onde passou do que qualquer burocratazeco aninhado na asa do partido ou no ovo em que o Governo choca estes pintos calçudos?
Conheci Dalila Rodrigues em Viseu, onde pude felicitá-la pelo que fizera no restauro, reorganização e animação do Museu Grão Vasco e lhe agradeci a pujança inteligente e de comovedor conhecimento com que agarrara em Grão Vasco e marcara uma capital da cultura em Salamanca com uma notável exposição de arte portuguesa.
Nesse breve encontro, em Viseu, Dalila Rodrigues não escondia a alegria com que acabara de receber o convite para dirigir o Museu de Arte Antiga. Até à sua infame exoneração só apresentou trabalho irrepreensível de resultados invejáveis e nunca atingidos. O que este Governo acaba de fazer a Dalila Rodrigues é uma ignomínia.
P.S.- Candidatos às direcções dos museus nacionais foram arrebanhados para subscreverem um vergonhoso abaixo-assinado contra Dalila Rodrigues, em véspera do concurso a que têm de se submeter. A indignidade de que uns são capazes e a que outros se sujeitam!
«24 horas» de 6 de Agosto de 2007

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4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A propósito de sabujos, aqui ficam os termos em que foi feita a famigerada denúncia contra o Prof. Charrua:
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Extracto da crónica de João Miguel Tavares no «DN» de 7 de Agosto 07:

«Venho por este meio participar a V. Exa. uma situação ocorrida no dia 19 de Abril, cerca das 12.45. O professor requisitado, Fernando Charrua, entrou no Gabinete de Apoio à Direcção e, em tom jocoso, proferiu umas palavras que mereceram reprovação imediata de quem as ouviu: 'Estamos num país de bananas, governado por um filho da puta de um Primeiro-Ministro!...' De imediato, repreendi a atitude dizendo que se abstivesse de tecer comentários daquela índole».

No entender da ministra, é isto o conceito de "estrito cumprimento do dever". Em Portugal e em Cuba, imagino eu. Nas últimas semanas, o nome de Fernando Charrua tem andado para cá e para lá, em bolandas. Independentemente dos erros que tenha cometido, também vale a pena conhecer o nome do homem que o denunciou, no "estrito cumprimento" do seu dever. Até para que o Presidente da República o possa agraciar com uma comenda no 10 de Junho, curvando-se o País diante de tão heróico acto. Chama-se António Basílio e era director de recursos humanos da DREN - o cargo perfeito para um homem com os seus talentos.

9 de agosto de 2007 às 12:08  
Anonymous Anónimo said...

Comentários de Pedro d' Anunciação, no «SOL», sobre este assunto:

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BCP e MNAA

A lógica mandaria o BCP suspender o patrocínio do Museu Nacional de Arte Antiga, na sequência do despedimento de Dalila Rodrigues: foi a acção dela, com efeito, que tornou interessante e justificado esse patrocínio. Seria, de resto, uma forma de a Sociedade Civil ajudar a moralizar a acção mais desprezível do Estado e do Governo.

No entanto, a Sociedade Civil em Portugal depende demasiado do Estado - e do Governo. Imagino que os 2 lados em confronto no BCP esperam todas as ajudas estatais, e o voto da CGD na assembleia geral do Banco.

Não há realmente em Portugal uma verdadeira Sociedade Civil - apesar de tanta gente andar com a boca cheia dela.

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O despedimento anunciado

O despedimento de Dalila Rodrigues do Museu Nacional de Arte Antiga estava tão anunciado como a morte narrada por Garcia Marquez. Já aqui o tinha referido, mal surgiram as primeiras posições críticas de Dalila.

Ela pôs a mexer o Museu, arranjou-lhe um financiamento, decuplicou as visitas - fez um trabalho notável. Na mediocridade de dependências partidarizadas e pessoais fomentada por Sócrates, isso era impossível de manter. Até porque contrastava com a ineficácia do resto do Estado rosinha.

As razões foram as mesmas que arrastaram as anteriores direcções do São Carlos e do D.Maria. E inscrevem-se nos autoritarismos alardeados pelos Ministérios da Educação e da Saúde.

Talvez não e possa voltar atrás antes de 2009. Mas a posição do Presidente da República, neste caso, foi importante - para se garantir que em 2009 haja mesmo uma mudança de poder.

10 de agosto de 2007 às 09:48  
Anonymous Anónimo said...

A opinião de Vital Moreira:

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Distinção

Há quem insista em confundir os cargos públicos de live nomeação (e livremente exoneráveis), que sempre implicam uma relação de confiaça política e uma margem de discricionariedade política no exercício de funções, e a função pública propriamente dita, constituída por funcionários de carreira, que não são livremente seleccionados nem são livremente exoneráveis e cujas funções decorrem da lei.
No dia em que os ministros pudessem demitir os segundos por razões políticas, deixaria de haver Estado de direito e função pública independente.

No dia em que os ministros não pudessem demitir livremente os primeiros por razões políticas, deixaria de haver governos capazes de levar a cabo as suas políticas.
Será tão difícil compreeender esta distinção elementar? Que a directora de um museu não o entenda, é mau; que analistas e comentadores o ignorem, é pior.

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«Causa-Nossa»/6.8.07

10 de agosto de 2007 às 09:57  
Anonymous Anónimo said...

Mário Soares recomendou, em entrevista ao Diário Económico, «menos arrogância» ao Governo português e reconheceu que se vive num mal-estar social em Portugal.

«É, talvez, preciso mais sentido de autocrítica e menos arrogância nas respostas», comentou o ex-Presidente da República sobre os «episódios desagradáveis» de autoritarismo «muito empolados, mas que devem ser evitados e corrigidos».

10 de agosto de 2007 às 12:04  

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