7.8.07

PASSEIO ALEATÓRIO

O Peso dos Números
Por Nuno Crato
UM ESTUDO ACABADO DE PUBLICAR na revista Science (317, pp. 457-8) traz novos dados à velha discussão sobre os temas que melhor preparam os jovens para o estudo das ciências. Em causa está uma discussão recente sobre a ordenação dos estudos de Física, Química e Biologia no ensino secundário norte-americano (high school). Em causa está também a Matemática, pois há um movimento, muito minoritário e apenas com relevância entre uma ala extrema de teóricos de educação, que diz que a Matemática deve ser eliminada enquanto tal, e apenas estudada dentro de cada área científica em função das suas aplicações.
Pois o novo estudo seleccionou uma amostra de 77 universidades e 8474 estudantes universitários matriculados em áreas científicas e foi procurar saber, por análise de regressão múltipla, quais as disciplinas que melhor os tinham preparado para os seus estudos.
Como seria natural, verificou-se um impacto de Física no Ensino Secundário no estudo de Física na Universidade. O mesmo se verificou em Química e em Biologia. Uma boa preparação anterior numa dada disciplina facilita o estudo universitário nessa mesma disciplina.
Estranhamente, contudo, os efeitos cruzados são negligenciáveis. Ou seja, uma melhor preparação a Física no Secundário não facilita por si só o estudo de Biologia e de Química. E o mesmo se verifica em cada uma das outras duas disciplinas científicas. A excepção é a Matemática. Uma boa preparação em Matemática facilita o estudo em cada uma das três outras disciplinas científicas estudadas. Os números, a prática do raciocínio rigoroso e o treino da abstracção valem a pena.
«Expresso» de 4 de Agosto de 2007

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5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Há uns anos, em reuniões internacionais os representantes portugueses foram criticados porque, em vez de apresentarem números concretos, preferiam termos como "muito/pouco/assim-assim/um certo tempo/mais ou menos/relativamente pequeno/em breve/logo que possível (...)".

É o que sucede com áreas ardidas, em que a comunicação social prefere a unidade "campo de futebol" em vez de hectare (cujo submúltiplo é o "campo de ténis"...).

Lembre-se que foi por uma razão dessas que Cavaco vetou a lei do Jornalismo, pois falava em "crimes graves" sem especificar mais nada.
(Nesse caso, a especificação faz-se dizendo "Crimes a que corresponde uma pena acima de x anos")

7 de agosto de 2007 às 10:03  
Anonymous Anónimo said...

Também temos a unidade "daqui a bocado", com o submúltiplo "daqui a bocadinho".

Em matéria de horas, adoramos o "ao fim da manhã", "à tardinha", etc.

As reuniões, mesmo as importantes (cheguei a ver isso nas na Assembleia Municipal de Lisboa) não são marcadas para começar "às 15h" mas sim "pelas 15h".

Qualquer pessoa que trabalhe numa organização sabe que é praticamente impossível começar uma reunião à hora marcada.

7 de agosto de 2007 às 11:00  
Blogger Mr. Shankly said...

Parece-me óbvio o interessa da Matemática para o estudo de quase tudo. Toda a realidade física pode ser expressa matematicamente.

7 de agosto de 2007 às 11:26  
Blogger bananoide said...

O Anónimo disse acima:

É o que sucede com áreas ardidas, em que a comunicação social prefere a unidade "campo de futebol" em vez de hectare (cujo submúltiplo é o "campo de ténis"...).


Isso não se compara à informação veiculada ontem pela SIC Notícias de que teriam ardido determinado número de "hectares quadrados".


Acho a matemática bastante importante para todas as áreas, mas infelizmente continuamos a falhar redondamente e somos péssimos a esta disciplina.

Lanço aqui o debate, se me é permitido: de quem é a culpa? dos professores (alvos fáceis), do Ministério, dos alunos, dos pais, da cultura portuguesa?

A sério que gostava de perceber...

7 de agosto de 2007 às 18:58  
Blogger bananoide said...

Vou deixar aqui o meu caso pessoal como exemplo, mas acho que é pouco representativo da maioria dos estudantes:

Até ao 4º Ano tinha bastante gosto pela matemática e era (dizia a professora) muito bom aluno.

No 5º e 6º ano fui aluno de 5 (topo da escala na altura, agora não sei se é de 0 a 20)

No 7º ano mudei de escola e de professor. As coisas corriam bem, mas no fim do 1º período houve uma substituição do professor. A turma era complicada e a nova professora nunca se soube impôr (Cheguei a tirar fotos nas aulas a colegas meus que jogavam às cartas). Nesse ano passei com 3 e nos dois anos seguintes idem. As dificuldades eram já mais que evidentes.

No 10º ano tive negativa e no 11º Idem (com duas professoras para quem ajudar um aluno com dificuldades ou arrancar um dente era mais ou menos o mesmo - e nessa altura eu já tinha percebido que precisava de ajuda e queria MESMO ser ajudado).

Ao mudar de área educativa preferi voltar ao 10º ano e apanhei novamente um bom (ou melhor, brilhante) professor e as notas lá melhoraram (média de 11-12), mas faltavam-me as bases perdidas do 7º ao 9º para fazer mais que isso.

Ensino superior: à rasca, mais uma vez... faltava o que ficou para trás

E aqui estou eu, que até adorava matemática e a quem de repente a disciplina lhe passou a ser indiferente e pior ainda, de digestão difícil.

É uma história normal? Acho que não, mas apanhei todos os tipos de professores de matemática que podia apanhar, sendo os mais marcantes os excelentes (2 deles) e os medíocres (3). Os outros foram assim-assim. O problema aqui é que os medíocres não conseguiram (por falta de interesse, competência ou por resistência minha) dar a volta à situação.

E essa atitude fez com que se destruíssem as bases para um bom futuro na matemática.

Sendo eu da área das Científico-Naturais, com média de 14 a 19 em todas as outras disciplinas, alguém me explica porque é que eu "fiquei assim" ?

A culpa foi de alguns professores? Sem dúvida!

A culpa foi minha? Sem dúvida!

Faltou o Ministério correr com os professores medíocres do Sistema de Ensino? Sem dúvida!

Os meus pais poderiam ter ajudado?
Sem dúvida, mas na minha opinião uma família com recursos limitados não é obrigada a pagar para dar explicações ao filho, se o ensino for de boa qualidade.

7 de agosto de 2007 às 19:13  

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