6.8.07

INDIGNAÇÃO

Por Alice Vieira
A MINHA AMIGA MARTA veste na Massimo Dutti, e às vezes, como as filhas, na Zara. Abastece-se de acessórios nas lojas da Mango e, de verão, não dispensa as cores espampanantes da Agatha Ruiz de la Prada.
Compra sapatos Adolfo Dominguez, e malas Purificacion Garcia.
Vai todos os dias ao supermercado do Corte Inglés, porque não passa sem queijo manchego, jamón de Teruel, bolachas Cuétara, e embalagens de revueltos de setas y ajetes tiernos.
Almoça no Xiriboga (que antes era Lizarrán).
Bebe Pata Negra (Gran Reserva) a acompanhar chicharrón frito ou morcela de arroz de Burgos.
Passa férias em Marbella.
Aos sábados lê a revista do “El País”, sobretudo por causa das crónicas da Maruja Torres, que tem língua afiada e chama os bois pelos nomes.
Mas também não dispensa a “Hola” e as “Lecturas”. Fala da Letizia e do Filipe como se fossem visitas de sua casa e,neste momento, anda a sofrer imenso com as desavenças conjugais da Duquesa de Montoro e Gonzalo Mirò. Mas parece que, pelo menos, a “netíssima” (Carmen Martínez-Bordiú, neta mais velha de Franco, para quem não ande a par destas coisas...) decidiu assentar e, segundo as revistas informam, até festejou o primeiro aniversário do seu casamento com José Costa. Marta respira de alívio...
Marta tem conta no Santander-Totta.
O “Concerto de Aranjuéz” é a música que escolheu para o telemóvel.
Adora os filmes do Almodovar (embora nunca perca o “Zorro”, nas milhentas vezes que a televisão o transmite, só por causa do Antonio Banderas...)
Embora não goste de o admitir, tem todos os CD’s do Júlio Iglésias, e acaba de enriquecer a sua discoteca (será que agora se diz “cedeteca”?) com a gravação de
boleros na voz de Isabel Pantoja.
Mas música, para ela, sempre foram as vozes de Plácido Domingo, Montserrat Caballé e José Carreras.
A filha mais nova estuda no Instituto Cervantes, porque há-de seguir os passos da mais velha, que conseguiu entrar na Faculdade de Medicina de Cádiz (depois de uma viagem de fim de curso a Lloret del Mar)
Põe o corpo em ordem na Corporacion Dermoestetica e quando, em tempos, se viu constrangida a fazer um aborto, lá marchou ela até à Clínica dos Arcos.
Talvez para compensar, desde essa altura faz todos os anos o Caminho de Santiago.
Mas a minha amiga Marta anda muito, muito ofendida.
Muito ofendida com José Saramago que teve o desplante, imagine-se!, de afirmar que se calhar o futuro de Portugal ainda será, um dia, juntar-se a Espanha.
Palavra de honra, exclamou a minha amiga Marta, as pessoas dizem cada barbaridade!
«Jornal de Notícias» de 5 de Agosto de 2007

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3 Comments:

Blogger odete pinto said...

Por supuesto, eso seria una verdadera barbaridad!

6 de agosto de 2007 às 13:17  
Anonymous Anónimo said...

Talvez a amiga Marta seja Espanhola, e esteja chateada por achar que vão voltar a ter Portugal "colado". De qualquer maneira restringir uma cultura, por mais consumista que seja, há ultra-globalização existente é um pouco redutor. Portugal (ainda) não são só lojas, e mesmo que fosse nunca seriamos da nacionalidade que as lojas são. Não é por por gasolina BP que sou "British" ou por comer um Kebap que sou Turco. Não sou ultra-nacionalista nem nada que se pareça, mas esta crónica peca pelo simplismo, assim como as palavras do Saramago. Nós fisicamente não poderiamos estar mais juntos de Espanha mas daí até sermos "irmãos" outra vez ainda vai uma longa distância...
´
BJ

6 de agosto de 2007 às 14:22  
Blogger R. da Cunha said...

Belíssimo artigo! E o final é deslumbrante. Era o que faltava tal "barbaridade"! Mas parece que os espanhóis não estão muito de acordo, preferem que se mantenha tudo como está, o que lhes permite os proveitos sem os custos.

6 de agosto de 2007 às 18:42  

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