1.8.08

A estátua

A SENHORA SÓ REPAROU que eram homens que se perfilavam pela escadaria quando chegou ao primeiro patamar. Segurando o longo vestido e gozando o frufru da seda, dando o braço ao elegante cavalheiro de casaca e condecorações, estugava o passo miudinho na pressa de encontrar, finalmente, os príncipes, depois de toda a tarde se ter sujeitado aos maus tratos obsequiosos do instituto de beleza.
Até ao primeiro patamar convenceu-se que, de um lado e de outro da passadeira, pela escadaria de mármore acima, se alinhavam preciosos jarrões. Foi um leve tilintar de esporas que lhe chamou a atenção – afinal, era pelo meio de homens perfilados, de espada desembainhada, que viera por ali fora, mantendo com o indicador um seio dentro do soutien, acertando a simetria do decote.
Nenhum daqueles homens se movera. Dir-se-ia que estavam treinados para assistir àqueles últimos preparativos em trânsito, antes de os convidados desembocarem nos salões iluminados pelos belos candeeiros de cristal.
Durante horas eles ficaram ali, sem um movimento, perfilados, brilhantes e emplumados, com vida apenas nos olhos e nas esporas, que espaçadamente se tocavam, sem nunca coincidirem com o bater de pestanas.
(...)
Texto integral [aqui]
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NOTA (CMR): Esta e outras crónicas de Joaquim Letria estão também no seu blogue
Histórias de Chorar por Mais

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