Não há recordes imbatíveis
Por Nuno Crato
SE O LEITOR SE SENTAR CALMAMENTE à borda de um lago e for atirando pedrinhas para a água, reparará que algumas vão mais longe do que outras. Mesmo que não faça nenhum esforço para atirar as atirar para mais longe, de volta e meia, uma das pedras que lança afastar-se-á mais que todas as anteriores. Baterá um recorde. Não será um recorde olímpico e ninguém lhe dará uma medalha, mas é um recorde.
O problema tem sido estudado em probabilidades. Se registarmos uma sucessão de fenómenos aleatórios independentes que sigam determinadas distribuições, por exemplo, que sigam a chamada distribuição normal, veremos que, à medida que a experiência se alonga, vão aparecendo valores mais extremos. Se a sucessão se prolongar indefinidamente, é inevitável que apareça de volta e meia um valor mais elevado que todos os anteriores. Ou seja, mesmo que os atletas não melhorassem sistematicamente, seria inevitável que os recordes olímpicos fossem sendo batidos.
Felizmente, passa-se algo mais. Os estatísticos têm estudado com atenção os recordes desportivos e têm concluído que a sua melhoria não pode ser explicada pelo acaso nem apenas por haver mais eventos e mais atletas. Não será uma grande surpresa, mas é uma confirmação de que há uma tendência persistente à melhoria de resultados. Sabe-se que essa melhoria se deve a muitos factores, em que se salientam a melhor alimentação e as melhores condições de vida dos atletas, os avanços espectaculares no equipamento, os estudos biomecânicos que levam a perceber onde se podem procurar progressos e, finalmente, o mais importante de todos os factores: o melhor treino dos atletas.
«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 26 de Julho de 2008 (adapt.)
NOTA (CMR): o desenho, da autoria do cartunista José Abrantes, ilustra a história «O Grande Desportista», que pode ser lida [aqui], pág. 3.
NOTA (CMR): o desenho, da autoria do cartunista José Abrantes, ilustra a história «O Grande Desportista», que pode ser lida [aqui], pág. 3.
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