27.7.08

Um mundo pachola

Por Nuno Brederode Santos
ESTE PEQUENO VALE ALENTEJANO onde, uma vez mais, busquei refúgio, põe-me à frente uma porta luminosa. Por tudo quanto sei, pode ser o umbral de uma máquina do tempo ou um parêntesis tridimensional. Nem cuido disso. Aprendo apenas que ainda há onde o céu traga mais novas e nos suscite mais atenção do que o vago e ternurento nada que nos toma os ombros e recobre as pernas esticadas, a fazer ponteiros de um relógio de sol impreparado. Lá em cima, passam nuvens irrepetíveis, no mesmo tempo em que, cá por baixo, só há rotinas: a ursa branca e estilizada que, ao longo da tarde, avança, nos vagares do tecto azul, cobre a cria que não trazia ontem; mas o cão que finge cheirar-me as pernas (suspeito que para se certificar de quais são os jornais que empilhei para ler hoje) é o mesmíssimo rafeiro de todos os dias, de todos os meses, de todos os anos (vai velho, o cão: dizem-me que já conta 16 anos - 16, a almejar em silêncio ansioso a felicidade que já teve).
Mas este tem sido um ano benigno, talvez para dar espaço a que as tão faladas crises se manifestem. Respeitou-se, é claro, o essencial, mas em doses comportáveis. Tivemos um pouco de miserabilismo voyeur nos doloridos caminhos de Fátima, mais o decepcionante e fugaz leão da Maia e uns fotogramas em sépia dos nossos carinhos por Timor.
(...)
Texto integral - [aqui]

Etiquetas: