O remorso mal emendado
Por Baptista-Bastos
OUVI, ATENTAMENTE, as declarações de João Cravinho sobre a corrupção infrene em Portugal, complementadas pelas gravíssimas acusações à legislação, que ele entende pejada de "factos anómalos".
Tenho consideração pelo ex-deputado do PS, que nunca fora homem de tagarelices. A sua história está associada à da minha geração, levemente ingénua e um pouco tonta, iluminada pela contemplação de uma finalidade, que entendia o fascismo como monstruosa simulação e o futuro como a correcção de todos os males. Extraíamos, da nossa consciência, a fidelidade a um projecto político que recuperasse as verdades entrevistas nas nossas leituras comuns. Éramos novos e não nos desconcertávamos com os reveses que a História, deusa cega, nos infligia.
Entre os poucos livros honestos, até hoje publicados, acerca dessa geração, avulta um: Os Anos Decisivos - Portugal 1962-1985: Um Testemunho, de César Oliveira, Editorial Presença, 1993. Nele se poderá aferir das traições aos testamentos legados, dos poucos que permaneceram no cumprimento de uma certa condição e dos muitos que desistiram e rodam em outros carris.
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