16.9.08

O buraco negro e a aposta de Pascal

Por Nuno Crato
AINDA AQUI ESTAMOS? Sim, eu pelo menos ainda aqui estou... ou estava, quando acabei de escrever este artigo. E se o leitor o está a ler é porque ainda aqui está, neste nosso mundo, apesar dos avisos catastróficos dos que diziam que o LHC iria criar um buraco negro que engoliria a Terra e todo o sistema solar.
De onde surgem estes medos? Por que razão sempre que a ciência avança há quem queira fazer-nos retroceder às superstições dos tempos das cavernas?
Quem menos ajuda a compreender o fenómeno têm sido algumas corrente antropológicas e sociológicas que identificam conhecimento e superstição — seriam tudo crenças impossíveis de provar de forma absoluta — e chegam a dizer que a ciência é uma construção social como outra qualquer, portanto entre crendice e conhecimento científico haveria apenas uma distinção de grau, se é que existiria alguma.
O LHC está de pé para provar a diferença. A superstição jamais conseguiria construir um aparelho tão perfeito, tão bem pensado e com tanto sucesso. A ciência constrói modelos teóricos e testa-o com os factos. Usa a razão e a dúvida sistemática. Confronta as previsões teóricas com as observações. Usa a experimentação e submete-a à análise estatística. Constrói.
(...)
Texto integral [aqui]
*
Pergunta para passatempo (o prémio é um exemplar deste livro, oferta da Gradiva): «Qual a 1ª letra da 1ª palavra do 1.º parágrafo do 1.º capítulo do livro?». O vencedor será o leitor que, até às 20h de 17 Set 08, mais se aproximar da resposta certa, considerando-se a ordem alfabética das 26 letras de A a Z. Cada leitor poderá dar uma única resposta. Actualização (11h50m): o passatempo terminou, pois a resposta certa já foi dada.

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6 Comments:

Blogger Jorge Oliveira said...

"Por que razão sempre que a ciência avança há quem queira fazer-nos retroceder às superstições dos tempos das cavernas?"

A humanidade nunca não deixou as superstições. O que é a religião senão superstição?

Claro que nem todas os religiosos são fanáticos anti científicos, mas todos os fanáticos anti científicos são religiosos.

16 de setembro de 2008 às 09:38  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

A "Aposta de Pascal" até tem algum humor. Dizia ele que «convém acreditar...».

Ou seja: não se trata de acreditar realmente, mas em pensar que «pelo sim, pelo não, é melhor...».

É o tal provérbio latino que se traduz por «Facilmente cremos quando queremos».

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Há também a história do cientista famoso que tinha uma ferradura atrás da porta.
Questionado acerca dessa superstição, ele respondeu qualquer coisa como:
«Ela faz bem, mesmo a quem não acredita...»

16 de setembro de 2008 às 10:14  
Blogger Luís Bonito said...

Letra U.

16 de setembro de 2008 às 11:43  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Nota acerca do passatempo «1ª letra (...)»:

Chama-se a atenção para o facto de, em caso de haver 2 respostas certas, o premiado ser o 1.º que a afixar. Assim, não há qualquer interesse em aventar uma "letra" que já tenha sido sugerida.

No caso de não haver nenhuma resposta exacta, será premiada a resposta a que corresponder «a menor diferença (para mais ou para menos) entre o ordinal da letra proposta e o da letra correcta».

Também nesse caso, se houver empate o premiado será o 1.º "apostador".

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Se eu me aperceber que a resposta certa aparece antes do prazo-limite, avisarei, dado o passatempo por terminado.

16 de setembro de 2008 às 11:46  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Bem... Ainda o comentário anterior não estava afixado e a resposta certa já estava dada!

De facto, o 1.º capítulo começa assim:

«UM DOS FENÓMENOS MAIS MEDIÁTICOS...»

Assim, o passatempo acabou, e Luís Bonito vai receber o prémio.

16 de setembro de 2008 às 11:50  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

dO RERUM NATURA:

--

(...)

Sempre que pensamos, podemos cair em algumas armadilhas. Isso tanto acontece por sermos evidentemente falíveis como por estarmos mais interessados em “provar” que são verdadeiras as nossas ideias preferidas do que em tentar saber honestamente se realmente são verdadeiras. Eis três dessas armadilhas, que se relacionam entre si.

1) “X é consistente com Y, logo é verdade que Y.”


Devia ser óbvio que a mera consistência não é suficiente para estabelecer algo como plausível ou verdadeiro, dado que muitas coisas opostas são consistentes com os mesmos dados. Imagine-se que a existência de deuses é realmente consistente com tudo o que sabemos ou julgamos saber sobre o universo. Isso não prova que esses deuses existem, nem que é provável que existam, se a inexistência de tais deuses for igualmente consistente com tudo o que sabemos ou julgamos saber sobre o universo. Consistência não é verdade nem sequer probabilidade.


O mesmo acontece com muitos raciocínios a favor da ideia de que somos regularmente visitados por extraterrestres, a favor da homeopatia, do Reiki ou seja qual for a última tolice inventada pelos seres humanos.

2) “X está por explicar; Y poderia explicar X, logo Y é verdade”.


Devia ser óbvio que há muitas explicações concorrentes e não basta que algo explique uma coisa para isso ser verdade. É também preciso que essa seja a explicação mais plausível entre muitas outras e que resista melhor à discussão crítica. Podemos explicar a queda dos objectos dizendo que há um rato com poderes psíquicos no centro da Terra que puxa os objectos para baixo, mas esta explicação não é a mais plausível. Poder explicar algo não é razão suficiente, só por si, para aceitar seja o que for porque com imaginação suficiente podemos explicar tudo com tudo. É preciso procurar activamente explicações alternativas, para depois as comparar entre si e tentar ver qual delas será mais plausível.

3) “Era tão bom que fosse verdade que X! Logo, é verdade que X.”


Claro que este tipo de erro nunca é tão explícito, mas nem por isso é menos comum. Sempre que uma explicação ou pretenso facto é particularmente desejável para nós, temos de a avaliar com redobrada crítica precisamente porque podemos estar a pôr na realidade o que queremos e não o que lá está. Qualquer argumento a favor da ideia de que um deus encarnou e depois de morto ressuscitou é mais fraco do que a hipótese de que isso nunca aconteceu, mas várias pessoas queriam tanto que isso acontecesse que inventaram essa fantasia. Quanto mais uma ideia nos for agradável, mais críticos temos de ser relativamente a ela, pois podemos ficar cegos precisamente por querermos tanto que seja verdadeira.

Estes três aspectos interligam-se obviamente. Uma pessoa gostaria que houvesse X. E se houvesse X, isso explicaria várias coisas. Além disso, X é perfeitamente compatível com o que vemos e ouvimos, com a ciência e com várias outras coisas que pensamos saber. Logo, conclui o desavisado ser humano, X existe.

Talvez este erro de raciocínio seja geralmente involuntário. Mas nem sempre o será, e raramente será inteiramente involuntário. Desconfio que na maior parte das vezes as pessoas adoptam este tipo de raciocínio com um misto de consciência de que estão a ser intelectualmente desonestas, mas ao mesmo isso é tão confortável que se forçam a continuar a pensar dessa maneira. É como alguém que se recusa a ver uma realidade desagradável e se força de algum modo a pensar que essa realidade não existe, só porque dava jeito que não existisse. Daí que quem adopta este tipo de atitude mental tenha a necessidade de estar integrado em comunidades de pessoas que pensam como elas e que não põem em causa as suas crenças mais queridas. Daí também a necessidade de introduzir na educação, desde a mais tenra idade, essas mesmas ideias: se desde muito cedo nunca contactarmos com pessoas que pensam que as nossas ideias são falsas, será mais difícil desconfiar que somos intelectualmente desonestos.

17 de setembro de 2008 às 10:10  

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