Ao lado de um amigo
Por Alice Vieira
REGRESSO DA SUÉCIA e encontro o meu computador entupido de mensagens, quase todas começando da mesma maneira, “então o B.B., já soubeste?”
Lancei-me sobre o telefone, a tentar saber o que de tão terrível teria acontecido ao meu amigo mas confesso que, embora já se tenham passado alguns dias, ainda não entendi a razão do alarido desta história. Deve ser uma questão de fusos horários.
Porque parece que toda a gente a entendeu - e berra, e grita, e pede a cabeça do B.B., como se fosse ele o responsável pela queda da Bolsa.
A história, como todos sabem, mete uma casa da câmara que lhe foi atribuída quando a dele, em Alfama, caía aos pedaços.
E de repente lembro-me de mim há quarenta anos, quando decidi, mesmo no termo de uma gravidez difícil, festejar o Sto. António nas Escadinhas de S. Miguel.
(...)
Texto integral [aqui]
Etiquetas: AV
6 Comments:
Não, isto não é uma crónica irritada nem uma crónica a tirar partido. Para dizer o mínimo, será uma cantiga de amigo.
O problema da atribuição de casas pela CML (algo que já vem dos tempos de Abecassis, alastrando, ao longo dos anos, a todo o espectro partidário) é um assunto 100% político, dado que há fundadas suspeitas de que a amizade pessoal e política prevaleceu - se não em todos os casos, pelo menos na maioria deles.
Ora os fogos em causa são propriedade dos contribuintes (e não de um qualquer senhorio privado), pelo que ninguém se deve irritar se eles querem saber com que critérios foram atribuídos bens que lhe pertencem.
No caso concreto abordado nesta crónica, não há que admirar que Baptista-Bastos seja alvo de um escrutínio especial pois, sendo uma figura pública que se tem notabilizado por uma escrita contundente, não podia ser de outra forma.
Alice,
"é também incapaz de uma desonestidade ou de prejudicar seja quem for."
Só prejudicou o contribuinte!
Só prejudicou o contribuinte! Uma figura publica deve dar o exemplo, e ao escrever crónicas invocando uma intangível superioridade moral que só a ele assiste, ele perde toda a credibilidade!
Impedem um Homem bom de trabalhar. Ninguém refila.
Ajuda-se um Homem bom (e impedido de trabalhar). Toda a gente grita.
Se Camões fosse vivo, não só o deixariam viver novamente na miséria como ainda lhe arrancariam o olho são caso aceitasse ajuda. E aceitar ajuda é, muitas vezes, um acto de valentia.
O que está em causa é saber-se com que critério a CML atribuiu as casas (e não só a de B.B).
E outra questão: passaram-se 11 anos sobre a atribuição da casa a B.B.
Na altura, ele tinha dificuldades; OK.
Mas quando essas dificuldades foram ultrapassadas?
E há ainda um assunto que ninguém aborda: queira-se ou não, um JORNALISTA, devido à especificidade da sua profissão, fica com a sua imagem de independência comprometida quando aceita favores de um organismo altamente partidarizado, como é uma câmara municipal.
Pode continuar a ser independente, é claro, mas fica fragilizado.
Orwell explicava isso muito bem.
Mas essas coisas só percebe quem as quer perceber.
A crónica de Alice Vieira é, essencialmente, emocional, colocando a amizade acima da lógica.
Dir-se-á que isso é natural, e que «os amigos são para as ocasiões», nomeadamente as de aperto.
Mas, na maioria dos casos, o que sucede (neste caso como em muitos outros) é o que está referido no post seguinte ("Critérios e Descritérios"): B.B. é defendido ou atacado em função das suas tendências político-partidárias e não em função dos factos em si mesmos.
A isenção e a independência de espírito são bens infelizmente escassos; mas, por isso mesmo, preciosos.
Como curiosidade, repare-se no SILÊNCIO ABSOLUTO de todos os partidos em relação ao assunto. Ora porque será?...
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