3.12.08

Sapos

Por João Paulo Guerra
O tempo dirá se o XVIII Congresso do PCP não vai terminar num XIX, extraordinário, convocado com um ponto único da ordem de trabalhos, que será o receituário para engolir sapos vivos.
AFIRMAÇÕES PEREMPTÓRIAS como a de Jerónimo de Sousa no redondel do Campo Pequeno já vêm de longe na história do PCP. Vêm dos tempos em que o PCP lançava sucessivos candidatos presidenciais para travar a candidatura do “general Coca-Cola”, no final da década de 50. Claro que nem sempre o PCP recuou, como foi obrigado a recuar em 1958. Mas por vezes o recuo deu tais enjoos que os eleitores do partido consumiram grandes doses de sais de frutos para engolir a bazófia de um Congresso de certezas definitivas e inabaláveis, até ao próximo abalo.
Os congressos do PCP são sempre um ritual melancólico, uma liturgia, onde os exercícios de ginástica braçal procuram compensar a absoluta falta de debate de ideias. Vai tudo pré-fabricado e pronto a votar, desde a lista única para a direcção até às “teses”. A única margem para o inesperado é o imenso discurso do grande líder, que não é submetido a discussão ou escrutínio. E foi nesse discurso que o PCP traçou neste Congresso a política até ver, mas sem novidade de maior: desancou as concorrências e afirmou-se, à esquerda, com a indisfarçável vocação e tentação de partido único. E como já se sabe quem é o “inimigo principal”, o discurso centrou-se na demolição dos “inimigos secundários”, Manuel Alegre e o Bloco de Esquerda nesta fase do campeonato.
Ninguém duvidará da generosidade e dedicação de grande número de comunistas à causa do bem do povo. Outra coisa é a direcção do PCP, máquina de poder em hibernação. O povo que espere. E enquanto espera, quanto pior, melhor.
«DE» de 3 de Dezembro de 2008

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4 Comments:

Blogger Filipe Diniz said...

Muito bem dito, caro Vasco Pulido Valente!
PS. Porque é que assina João Paulo Guerra?

3 de dezembro de 2008 às 14:12  
Blogger Florêncio Cardoso said...

Pois, mas o certo é que o JPG, que já viu muita coisa, tem razão:
Já sucedeu com Delgado, com Soares, com Eanes...
O PCP diz cobras e lagartos deles, mas depois, se for preciso, apela ao voto nesses mesmos "malandros".

Se houver umas presidenciais entre Alegre e Barroso (p. ex.) alguém duvida que seria boa ideia os camaradas irem procurando os condimentos para temperarem o sapinho de que agora tanto mal dizem?

Não é de espantar, pois a política de alianças (apoiar um contra outro, conforme as circunstâncias) é o B-A-BA do leninismo («O esquerdismo, a doença infantil do comunismo»)

3 de dezembro de 2008 às 18:40  
Blogger Teófilo M. said...

O Alegre será o candidato ideal para o PS se este conseguir uma confortável maioria nas legislativas, pois porá em sentido, quer a esquerda quer a direita, e sairá razoavelmente bem na fotografia.

O BE terá de engolir o sapo e o PCP também, o PS já anda com ele atravessado na garganta, por isso terá muito menos esforço em engoli-lo.

3 de dezembro de 2008 às 19:20  
Blogger flecha said...

Grande João Paulo Guerra! Um dos cada vez menos jornalistas com "J" grande que escreve artigos de opinião com factos vivenciados sem mentiras nem calúnias! A veracidade contida neste artigo é assustadoramente real! Confundir o "Vasquito Valente" com o João Paulo Guerra é como comparar o Alberto João Jardim com o Manuel Alegre!

5 de dezembro de 2008 às 21:09  

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