O regresso de ‘O Independente’
Por J. L. Saldanha Sanches
O INDEPENDENTE ERA UM JORNAL malcheiroso com um significado que o ultrapassava: as primeiras páginas que o tornaram famoso eram o sinal mais expressivo do período em que os enriquecimentos ilícitos foram a questão central da política portuguesa.
No Governo estava Cavaco Silva e o dinheiro jorrava de Bruxelas: era preciso gastá-lo depressa e tolerar algumas irregularidades – constava ser esta a posição de Cavaco – senão o direito de o receber caducava. Foi assim que tudo começou.
‘O Independente’, com as suas indignações fulminantes, reflectia muito bem o despeito de quem já estava instalado perante a rapidez com que políticos, que vinham para Lisboa com carros a cair aos bocados, passavam para BMW topo-de-gama.
De vez em quando um deles tinha um processo-crime, apesar de a justiça desse tempo ainda funcionar pior do que a de hoje. Então, quando o processo era arquivado por falta de provas, Cavaco Silva mostrava a sua indignação pelo modo como jornalistas sem escrúpulos e magistrados incompetentes manchavam a reputação de homens impolutos.
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