Passatempos e democracia
Por Joaquim Letria
QUANDO EU VIVI EM LONDRES, tinha dois passatempos que a quase perfeita democracia daquele velho Estado de Direito me facultava. Um, era sair de Bush House e enfiar-me no Old Bailey a ver um julgamento que estivesse a decorrer; o outro, era ir a Westminster, assistir a uma sessão do parlamento.
Hoje divertir-me-ia muito mais. A demissão do presidente da Câmara dos Comuns, por causa das despesas particulares dos deputados, pagas com dinheiros públicos, é um espectáculo. Há mais de 300 anos que uma demissão destas não ocorria, mas esta também não melhorou as coisas, embora dê um arzinho de vergonha na cara, que é algo que por outras paragens está em falta.
Em Londres, há mais quatro deputados que penduram as botas e dois ministros a serem investigados, enquanto dois terços dos eleitores querem eleições antecipadas para castigarem os partidos grandes.
Há pouco tempo era impensável um caso destes em Westminster. A falta de ética parece ter-se generalizado no mundo mais do que a gripe dos porcos. Nem as democracias a sério escapam.
«24 Horas» de 26 de Maio de 2009
Etiquetas: JL
2 Comments:
Apenas e só por curiosidade: quais as democracias que considera que sejam "a sério"?
As dos países nórdicos?
Finalmente, alguém foi apanhado!
Mas lá está: a regra de ouro é fazer a trafulhice bem feita, o que significa não ser apanhado. Só é grave quando se é descoberto e aí é só escândalos.
O pior é que muitas vezes "sabe-se" mas não chega a ser oficialmente e ninguém é punido nem compensa os que sairam prejudicados.
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