22.7.09

O tesouro que desdenhamos

Por Joaquim Letria

UM JUIZ DA FLORIDA deu razão a Espanha num processo que opunha a Coroa espanhola à Odissey Marine Exploration, uma empresa que recupera tesouros afundados e navios naufragados. A questão que o tribunal dirimia dizia respeito ao afundamento, há cerca de 200 anos, do galeão “Nuestra Señora de las Mercedes” por disparos de navios de guerra ingleses na costa de Portugal.

Em disputa está um tesouro que a Odissey, e não a Espanha, encontrou nas suas buscas no fundo do mar. A quem pertencem as 500 mil moedas de ouro a que nós, portugueses, virámos as costas e, desdenhosamente, nem procurámos recuperar? A quem pertence um tesouro destes? Aos seus antigos donos, ou a caçadores de riquezas cheios de tecnologias?

O valor do tesouro ultrapassa os 500 milhões de euros, aos preços de hoje. Falamos de escudos de ouro, reais de prata e lingotes de ouro e bronze e demais riquezas. A favor da Espanha, jogou o facto de a riqueza viajar nas entranhas dum navio espanhol atingido por um canhão inglês, em águas portuguesas, a 5 de Outubro de 1804. Daí o juiz falar em direito internacional e atribuir o tesouro ao Estado espanhol. A Odissey replica que a missão do navio era comercial e privada, daí procurar descendentes da tripulação. Naturalmente que vai recorrer. Ganha quem tiver mais dinheiro e paciência.

«24 horas» de 22 de Julho de 2009

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