17.8.09

Grato ao bastonário

Por Joaquim Letria

O BASTONÁRIO DA ORDEM dos Médicos exige provas e testes aos 40 cubanos que o Ministério da Saúde mandou vir para fazer face à falta de médicos portugueses. A intenção dele é, com certeza, proteger o negócio da classe e cuidar da saúde dos portugueses.

O bastonário, oftalmologista com concursos de acesso e de saída na especialidade, ia desperdiçar uma oportunidade destas para exigir o escrutínio dos colegas de Havana e Santiago?!

Aplaudo-o se ele vier a exigir-lhes também uma prova de seguros, especialidade em que o nosso bastonário se tornou famoso em Espanha. E aproveitando a vaga das novas oportunidades, bem se pode pedir a um destes cubanos para explicar ao nosso bastonário como é que tratam e operam os doentes da filária e de outros males piores, em África, e têm resolvido a contento todos os casos que os municípios portugueses lhes enviam, sem cegarem ninguém. Saber não ocupa lugar…

Não tenho razão de queixa destes médicos estrangeiros que estão cá a ajudar os portugueses. Fui visto por uma simpática uruguaia no Hospital de Almada. Viu-me atenciosamente, fez o diagnóstico, medicou-me a preceito, mandou-me saudável para casa, falámos de Montevideu e não me vendeu nenhum seguro. Já me garantiram que, à mercê dos nossos industriais da medicina, estes estrangeiros nem ajudas de custo recebem. São médicos por vocação...

«24 horas» de 17 de Agosto de 2009

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5 Comments:

Blogger dana_treller said...

São médicos por vocação que saem do seu país com o único intuito de ajudar os outros.

Assim como os nosso vão para França ou para a Suíça trabalhar na construção civil - por amor à construção e para ajudar aquela gente que precisa de casa...

17 de agosto de 2009 às 10:29  
Blogger AF said...

O corporativismo da classe médica será porventura paradigmático e não serão sempre nobres as razões que o movem. Mas também é verdade que se acaso começarem a chegar médicos sem escrutínio, ou com diplomas por correspondência, e algum dia houver um problema sério, toda a gente vai bradar aos céus: "como foi possível autorizar-se isto?"... Seria bom haver equilíbrio...

17 de agosto de 2009 às 14:32  
Blogger R. da Cunha said...

Há tempos recorri a uma reputada clínica privada, onde fui atendido por um médico cubano. Além de simpático, falando já razoavelmente o português, tratou bem do mal que ali me levou.

17 de agosto de 2009 às 18:07  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Há um par de semanas, recorri às urgências do Hospital de Lagos, onde fui rapidamente atendido por um desses médicos "importados".

Ele fez o diagnóstico correcto, dando início ao tratamento - também correcto, pois veio a ser confirmado e continuado, já em Lisboa, pelo meu médico de família.

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No mesmo hospital de Lagos - recorde-se - morreram há um par de anos, e como poucas horas de intervalo, duas pessoas no seguimento de anestesias.
Num dos casos, tratava-se da remoção de um quisto...

A Ordem dos Médicos defendeu os intervenientes (que, por sinal, não eram desses "importados"), mas o hospital esteve fechado durante muito tempo - e bem.
Nunca se ficou a saber exactamente o que é que correu mal e de quem foi a culpa.
Mas ficou-se com a ideia (injusta ou não) que a O.M. foi mais lesta a defender os seus associados do que as vítimas...

17 de agosto de 2009 às 18:29  
Blogger R. da Cunha said...

Mas as Ordens, mormente a dos Médicos, não são Corporações?

17 de agosto de 2009 às 22:28  

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