17.11.09

Da Intolerância heterofóbica

Por Manuel João Ramos

JÁ TINHA DISCUTIDO [AQUI] as consequências conceptuais profundas que a assimilação da união homossexual ao instituto do casamento podem ter.

E já me tinha confrontado com a deselegância dos comentários do agora deputado Miguel Vale de Almeida, [AQUI], [AQUI] e [AQUI].

Agora, o mesmo tornou televisivamente óbvia a sua intolerância:


É claro para qualquer mente sã que o princípio da igualdade de direitos não pode atentar contra o princípio da especificidade. O contrato de casamento é exclusivo e específico, e a união homossexual não pode ser entendida senão sob o critério da excepcionalidade.

Os defensores do chamado "casamento gay" pretendem que a excepção à regra se faça equivaler à regra, mas apenas no que respeita aos seus interesses particulares, sem consideração pelas transformações conceptuais profundas que tal confusão acarreta.

O contrato de casamento define-se, entre nós, segundo um triplo critério: distinção de sexo, exclusividade e interdição de consanguinidade. O abandono do critério da distinção de sexo, unicamente, é discriminatório e anticonstitucional, na medida em que fere o disposto no n.º2 do art.13 da Constituição:

"Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão da ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou condição social".

A recusa em discutir a equivalência, face ao Direito português, dos estatutos repectivos das uniões homossexuais, poligínicas e poliândricas revela uma profunda intolerância xenófoba, na medida em que desconsidera a realidade sociológica portuguesa actual, em que a poliginia e a poliandria existem, de forma encapotada, entre minorias culturais que não reclamam a sua legalização por receio de reacções segregatórias.

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5 Comments:

Blogger João Pais said...

Desculpe, mas o senhor mostra um vídeo onde uma pessoa fala dois minutos e meio, e outra pessoa é cortada para ser ridicularizada por apenas 5 segundos, e está a acusar a segunda pessoa de deselegância e intolerância?

Vá-se catar, por favor (para não ser deselegante).

Quando quiser discutir coisas a sério, cá estamos.

Se acha que as uniões poligínicas e poliândricas estão a ser descriminadas, porque não cria uma plataforma para as apoiar?

17 de novembro de 2009 às 22:57  
Blogger Manuel João Ramos said...

"acusar a segunda pessoa de deselegância e intolerância"...

De facto, sim. Procure catar os posts de MVA cujo link se encontra no texto acima, e já agora o conjunto das intervenções no programa Prós e Contras, e poderá comprovar o que digo.

Prós e Contras: http://ww1.rtp.pt/multimedia/index.php?tvprog=23414&idpod=32017&formato=wmv&pag=recentes&escolha=

Quanto à plataforma poligâmica e poliândrica, porque não a cria você? Este tipo de uniões só será discriminado se o "casamento homossexual" for legalizado. A isonomia não lhe diz nada?

Não precisa de me responder. Provavelmente o nossos conceitos de seriedade na discussão não são isonómicos.

18 de novembro de 2009 às 00:31  
Blogger antoniomcascais said...

Assisti ao Prós-e-Contras,de16-112-09 onde Manuel J. Ramos usou o argumento dos casamentos "POLI" contra os casamentos "gay" e, onde Vale de Almeida ripostou que tal não era "argumento". Na verdade não é argumento,ou,sendo-o,afasta-se demais da nosa cultura,perdendo-se.
Não precisamos de ir tão longe !
Ficou bem claro neste debate que o casamento "gay" implica ADOPÇÃO de filhos(artificiais) e é aí que a FAMÍLIA-base secular da sociedade humana- se alienará,irreversilmente.
Ou seja, gostava de ver Sòcrates ter um filho "gay" que se casasse com outro homem,os quais tivessem um "filho" ,em laboratório, e perguntar-lhe como se sentia como "avô" daquele seu neto que tem dois pais mas que não tem mãe...
É assim tão perto se põe esta questão...
(Perguntar,em vez, ao mesmo Sócrates,porque o seu filho é Poli e se casou com três mulheres, e porque tem seis netos ,é assunto bem diferente...).
É a alienação da família milenar,anterior ao Estado e á Religião Católica e á Democracia, que está em causa nesta espécie de ditadura dos partidos,que está em causa,pelo que um REFERENDO á população é absolutamente essencial !!!
A MAIORIA do povo português(abstenção/brancos/nulos)exige-o.

18 de novembro de 2009 às 00:37  
Blogger João Pais said...

Antes de ter enviado o comentário fui mesmo catar os posts, e realmente não encontrei nenhuma deselegância e intolerância. O mais deselegante que vi foram as afirmações "não linko!" ou "não digo o nome porque não me apetece".
Vindo de alguém que se "filma a si próprio" a colocar uma questão extensa e corta/tenta ridicularizar a resposta do adversário, digamos, não demonstra muito fair play.

A plataforma poligâmica e poliândrica não a crio, porque não acho que haja suficientes pessoas na sociedade para que sejam precisos esses enquadramentos legais. Mas homossexuais, acho que há.
Realmente a isonomia não me dizia nada antes, que eu não conhecia a palavra. Mas diga-me, conhece alguma sociedade que aplique essa isonomia de modo tão radical? Por exemplo, as mulheres não têm o mesmo tratamento que os homens na nossa sociedade - isso quer dizer que apesar de os movimentos feministas terem começado há mais de 100 anos, essa isonomia ainda não se aplica a elas.
E de resto, o que têm as relações poliândricas e poligâmicas a ver com os homossexuais? Só porque os ovos têm que vir com um carimbo do fornecedor, as batatas também têm que ter o mesmo tratamento?
Se se realmente preocupa com estas outras ligações, então ajude a que o casamento entre homossexuais seja realidade. Quando for a altura, estas reuniões também serão aprovadas (se alguma vez tiverem expressão na sociedade portuguesa).

Já agora, os portugueses também são conhecidos (até internacionalmente) pelos seus fetiches com ovelhas e cabras (tradições que se perdem com a despovoamento das zonas rurais). Porque não menciona isso no seu argumento?

O que eu acho deselegante da sua parte é que você se aproxima da questão evocando um argumento que no final é falso. Tanto quanto percebi, você não tem interesse nas ditas ligações, mas não assume as razões concretas porque é contra o casamento homossexual (o que em si não seria problema).

De resto, obrigado pelo link, vou ver assim que puder.

18 de novembro de 2009 às 10:16  
Blogger Manuel João Ramos said...

AC: "afasta-se demais da nossa cultura". A questão está no modo como o Direito pode reflectir a Cultura. O Direito é normativo e definido; a Cultura é difusa, dinâmica e indefinível. Volto a insistir: os defensores do "casamento gay" devem comprovar que este tipo de união é igual ao casamento monogâmico, heterossexual e não-incestuoso. Se o conseguirem comprovar, as variáveis do problema não requerem apelos à "cultura", mas à previsão de não-discriminação da Lei. Aprovando-se uma Lei que admita como iguais o casamento heterossexual e homossexual, bastará então que haja uma única pretensão de casamento polígamo para determinar a sua inconstitucionalidade.

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JP: "não encontrei nenhuma deselegância e intolerância".
Se chamar-me ilógico, perverso e comparar-me a Hitler, recusando conceder ao leitor acesso ao meu texto através de um link, é para si sinal de elegância e de tolerância, estamos conversados.

"não acho que haja suficientes pessoas na sociedade para que sejam precisos esses enquadramentos legais": penso que está muito enganado. Passeie um pouco pela mesquita da Praça de Espanha, ou pela Mouraria, pelo menos (de qualquer forma, o problema não é de representatividade: ninguém pode ser discriminado, diz o nº2 art. 13 da Constituição).
"um argumento que no final é falso": percebi que não percebeu o meu argumento; não percebi que tenha demonstrado a falsidade do meu argumento.

18 de novembro de 2009 às 13:55  

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