A pressa de Saramago
Por Joaquim Letria
SARAMAGO EXPLICOU que escreveu “Caim” em quatro meses menos uma semana de hospital, e “de um jacto”, como que dominado por um sentimento febril em terminar a obra. Nota-se.
Saramago escreveu “Caim” como se destinasse a quem nunca leu a Bíblia nem tenha o hábito de ler. Podia ter escrito tudo o que disse em 171 páginas numa única das suas crónicas do “Caderno”.
Caim é uma figura de que o escritor se serve para criticar um Deus arbitrário na febre de expor o Antigo Testamento. O resultado reflecte a forma apressada com que confessadamente foi escrita a obra, na ânsia de demonstrar que a Bíblia é um manual de maus costumes e que Deus é cruel.
Não gosto da facilidade de José Saramago em parodiar a Bíblia nem do à-vontade com que toda a gente o criticou sem ler.
Caim é um livro. Saramago é um Prémio Nobel por ter escrito alguns deles. Tenho por Saramago um grande respeito e afecto que vêm dos tempos em que ele ainda trabalhava para os “Estúdios Cor” e, muito mais tarde, a convite de Lopes do Souto, passou a escrever o respeitável editorial do “Diário de Lisboa” que substituíra as “Notas do Dia” de Norberto Lopes.
Compreendo que aos 80 anos uma pessoa tenha pressa em acabar um trabalho. Deus e a Bíblia não me preocupam. Aguentam tudo. Saramago é que me aflige.
SARAMAGO EXPLICOU que escreveu “Caim” em quatro meses menos uma semana de hospital, e “de um jacto”, como que dominado por um sentimento febril em terminar a obra. Nota-se.
Saramago escreveu “Caim” como se destinasse a quem nunca leu a Bíblia nem tenha o hábito de ler. Podia ter escrito tudo o que disse em 171 páginas numa única das suas crónicas do “Caderno”.
Caim é uma figura de que o escritor se serve para criticar um Deus arbitrário na febre de expor o Antigo Testamento. O resultado reflecte a forma apressada com que confessadamente foi escrita a obra, na ânsia de demonstrar que a Bíblia é um manual de maus costumes e que Deus é cruel.
Não gosto da facilidade de José Saramago em parodiar a Bíblia nem do à-vontade com que toda a gente o criticou sem ler.
Caim é um livro. Saramago é um Prémio Nobel por ter escrito alguns deles. Tenho por Saramago um grande respeito e afecto que vêm dos tempos em que ele ainda trabalhava para os “Estúdios Cor” e, muito mais tarde, a convite de Lopes do Souto, passou a escrever o respeitável editorial do “Diário de Lisboa” que substituíra as “Notas do Dia” de Norberto Lopes.
Compreendo que aos 80 anos uma pessoa tenha pressa em acabar um trabalho. Deus e a Bíblia não me preocupam. Aguentam tudo. Saramago é que me aflige.
«24 horas» de 3 de Novembro de 2009
Etiquetas: JL
3 Comments:
Quando se vai para velho, começa a sentir-se uma urgência em fazer-se o que (ainda) não se fez.
Há uma noção de que o tempo que temos à nossa frente não chega, e que a morte vem aí.
Uma nota curiosa:
A poucos minutos de morrer, e enquanto lhe preparavam a cicuta, Sócrates ainda quis aprender uma ária numa flauta...
Houve quem tivesse o mau-gosto de lhe perguntar "para quê", e ele respondeu qualquer coisa como "apenas para a ficar a saber antes de morrer".
Mas porque é que a cultura cá no nosso burgo só se resume a Saramago, a Paula Rego, e outros que mais?
Quando é que alguém menciona, e homenageia um dos pilares da cultura musical alternativa que faleceu anteontem?
Quem é que não se lembra, tal como eu com 42 anos, de programas da rádio como:
- Rolls Rock
- Som da Frente
- Lança-Chamas
- A Hora do Lobo
- Viriato 25
Obviamente estou a falar de : António Sérgio
Caros,
Saramago, sobre ser bom escritor, é também refinada raposa velha e, como tal, sabe muito bem onde pode mugir a vaca editorial.
Com o «Evangelho» não se saiu nada mal. O livro vendeu-se aos milhares, embora suspeite que raros o tenham lido.
Agora rebentou em descobertas da pólvora, sobre a natureza violenta e sádica do Deus do Antigo Testamento, de que insiste em querer fazer leitura literal, à maneira fundamentalista.
Poderia, com maior proveito para todos nós, indagar e reflectir sobre a grande tragédia do Comunismo, que tantas vítimas causou, muitas mais que a Igreja, nos séculos conturbados das suas guerras, em apenas cerca de 70 anos de vigência, na sua Pátria primitiva, também designada por Sol da Terra, por outro bom escritor e mau político, seu correligionário bem amado.
Em vez disso, deu em insultar quem não o persegue nem ofende, antes o reconhece como autor importante da Língua Portuguesa, que honrou com o Prémio Nobel que recebeu.
Lamenta-se ver alguém já tão idoso, mas lúcido expor-se ao desagrado geral, mas o peso da sua velha mas nunca abandonada senhora, a ideologia que nunca sujeitou a escrutínio idêntico ao que supõe fazer à religião cristã, acaba sempre por se impor e inevitavelmente por esmagá-lo.
Que o Senhor, o do Novo Testamento, para seu bem, dele se apiede e lhe conceda ainda a graça de uma verdadeira contrição.
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