3.12.09

Os carros do Estado

Por Joaquim Letria

ANTIGAMENTE, havia os carros do Estado. Quase todos eram pintados de preto e os carros dos altos comandos militares também se conheciam pelas matrículas. Nem sempre eram utilizados correctamente. Mas a democracia foi um regabofe para os carros do Estado.

Com a pandemia dos assessores, então nem falar. Estou a lembrar-me daquela secretária de Estado que socializou o carro do gabinete ao serviço dum namorado de ocasião e dos filhos do ministro que iam no carro oficial do papá para a discoteca em Cascais.

Desde que os carros oficiais deixaram de ter cor e ar de oficiais, é à tripa forra. Os generais escolhem cores entre o carmesim e o azul cueca, os ministros quiseram carros idênticos aos administradores e estes, como fazem parte do ordenado, começaram a ter modelos menos formais.

No “ancient régime” as “madamas” faziam contrabando de sabonetes e água de colónia, caxemira e sedas estampadas nos carros oficiais, muito convenientes para atravessarem a fronteira. Hoje, que já não se faz deste contrabando, para que servem os carros descaracterizados se toda a gente recebe senhas de gasolina?! Os únicos que a gente não se importaria de pagar são os carros celulares e os da escolta correspondente. Mas esses nunca levam gente conhecida!

«24 horas» de 3 de Dezembro de 2009

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