3.2.10

Língua de palmo

Por Joaquim Letria

HOJE É DIA de Conselho de Estado, festa grande em Belém onde o actual Chefe de Estado reúne o apreciado órgão consultivo, a que recorre pela quinta vez na sua vida.
Desta vez, os motivos parecem ser outros muito diferentes duma óbvia consulta, julgando-se que a reunião de hoje envie recado a destinatários reservados e, ao mesmo tempo, sirva para proclamar anúncio público de méritos indiscutíveis de quem a convoca, não vá o povoléu conceder fama a outro, sem proveito para o próprio.
Não estamos, portanto, diante do início duma crise política ainda mais aguda do que esta. Não será, certamente, para ouvir a opinião dos conselheiros sobre a dissolução do parlamento, nem acerca dos efeitos da consequente demissão do Governo, que Cavaco Silva chama ali hoje aquela gente. Mas é, certamente, para ter material de recurso que dê um bom corte na montagem da sequência da campanha para as presidenciais que no calor eleitoral do ano passado os socialistas lançaram contra ele, e a que vai responder, como é esperado.
Ou seja, o que mais parece é que andam a brincar uns com os outros, julgando que somos todos parvos e não percebemos o que querem de nós, para além de pagarmos, com língua de palmo, a brincadeira deles.
«24 horas» de 3 de Fevereiro de 2010

Etiquetas: