2.2.10

Os Erros e a Política

Por Carlos Fiolhais

A POLÍTICA tem esta coisa profundamente anticientífica de nunca se admitir um erro, mas sim de o tentar esconder o mais possível. Um exemplo português recente é-nos oferecido pelas declarações produzidas ontem pelo primeiro-ministro José Sócrates na Conferência do Diário Económico sobre o Orçamento de Estado:

"Decidimos aumentar o nosso défice não por descontrolo, mas para ajudar a economia, as empresas e as famílias", "O défice orçamental português aumentou por uma boa razão, para responder à crise" (...) "O facto de o Estado português ter decidido aumentar o seu défice foi para resolver os problemas e numa dimensão em linha com as outras economias. Não se elevou demasiado, mas sim em linha com a média dos países evoluídos e numa proporção aceitável".

Em contraste, o ministro das Finanças Teixeira dos Santos disse quase na mesma altura na Assembleia da República, na discussão do mesmo Orçamento do Estado:

“As previsões falharam redondamente em todo o lado e não foi porque houvesse intenção de enganar” (...) "Eu engano-me mas não engano” (...) "Não tenho pejo em reconhecer a minha quota parte de responsabilidade no perfil de estagnação e de crescente endividamento."

Um deles está simplesmente a ser mais político do que o outro.
Fonte: Citações do Público on-line. Foto de Daniel Rocha do Público.

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7 Comments:

Blogger Manuel Brás said...

Dos palanques iluminados
as rectidões são radiosas,
tantos discursos refinados
por palavras estudiosas.

Em plena rota perigosa
da complicada caminhada
fica a esteira rugosa
da política definhada.

Negando a realidade
numa visão arrebatada
surge a imbecilidade
devidamente atestada.

Do discurso incoerente
de roupagem irrealista
a política aderente
é, de facto, surrealista.

2 de fevereiro de 2010 às 14:51  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Teixeira dos Santos ainda é dos poucos políticos a quem eu era capaz de comprar um carro em segunda-mão...

2 de fevereiro de 2010 às 15:11  
Blogger Ribas said...

O discurso do Ministro das Finanças foi mais inteligente do que o do Primeiro-ministro.
Teixeira dos Santos não caiu no ridículo de justificar o descalabro das contas, com um discurso de auto-desculpabilização pela crise e pelo esforço financeiro necessário para a conter.
Já José Sócrates, que ao que parece até discursou depois, não só não aproveitou o discurso do seu ministro, como ainda (vítima do seu super ego), deu um enorme tiro no pé, ao fazer um discurso indulgente, tomando-nos mais uma vez por tolinhos.
Agora, não tenho dúvidas que, tanto um como outro tivessem mentido com os dentes todos, muito embora, cada um à sua maneira.
Teixeira dos Santos, sempre com o seu ar sério e grave, já nos habituou às suas mentiras. Ora o Orçamento é reajustado, ora é correctivo (mas nunca rectificativo, parece que a palavra nos faz muita diferença), tanto aponta uma taxa de desemprego, como depois se contradiz, e por aí fora…
De Sócrates, já nem vale a pena falar!

2 de fevereiro de 2010 às 18:45  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Pois... Mas quando Teixeira dos Santos diz as suas 'mentiritas', dá-me a impressão de que está a pedir desculpa, como se dissesse: «Vocês sabem que não é bem assim, mas é o que eu tenho de dizer...».

Enquanto há outros que mentem como respiram, e até mostram gosto nesse exercício, tomando-nos a todos por parvos...

2 de fevereiro de 2010 às 18:57  
Blogger Ribas said...

Nem mais!

Infelizmente parece ser essa a verdade.
Sou da mesma opinião.

2 de fevereiro de 2010 às 19:03  
Blogger rc said...

E apesar da dissonância, os 2 estão-nos a enganar!

2 de fevereiro de 2010 às 22:25  
Blogger Táxi Pluvioso said...

Nesta época da "ciência" todos lhe recorrem mas ela também pouco acerta. Até é moda em Portugal, as universidades vestirem um gajo de bata branca, e chamarem-lhe cientista.

3 de fevereiro de 2010 às 10:39  

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