26.5.10

Os causadores

Por Joaquim Letria

O JORNAL “PÚBLICO” recordou que em 2000 “The Economist” apresentava Portugal como uma história de sucesso. A nossa economia crescia a 3,5% ao ano, o desemprego estava abaixo dos 5%, os padrões de vida aumentavam com rapidez. Desde o desvario da Expo e do Europeu dos estádios para cá, Portugal definhou, entrou no mais longo abrandamento do crescimento conhecido desde a II Guerra Mundial, continua a empobrecer e hoje, a mesma insuspeita revista, apresenta “Portugal, o novo doente da Europa”.
Esta mudança é real, foi criada em 10 anos de desgovernação e reflecte o pântano em que o outro falava, já em fuga desabrida. Infelizmente, não é uma reformulação de linguagem como aquela que também vivemos.
Já devem ter reparado que fomos abandonados por aquelas expressões vivazes como “refundação do capitalismo”, "controlo do mercado financeiro”, “fim dos paraísos fiscais”, “o fim da História” e tantas outras que animavam o espaço público. Regressámos à “perda de confiança”, “perda de credibilidade”, ”pressão dos mercados internacionais”, “medidas necessárias e inevitáveis”.
Quase sem darmos por isso, a relação causa–efeito inverteu-se por completo. Passaram a ser os funcionários, os pensionistas, os dependentes, os imigrantes, Portugal inteiro, os causadores da crise da economia.

«24 horas» de 26Mai 10

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2 Comments:

Blogger GMaciel said...

Era previsível que assim fosse, caro Letria. Pelo menos eu e algumas pessoas que conheço, sempre percebemos que a refundação, as mudanças e a treta toda que envolveu as discussões aquando do anunciar da crise financeira, não passariam disso mesmo: tretas para entreter porque tudo ficaria na mesma se não pior.

E agora? Levamos pela medida grande e nada voltará ao que era porque tudo se complicará para os mesmos de sempre. O meu filho não terá as oportunidades que eu tive... e ainda bem que nós, pais, prevemos isso e trabalhámos - e continuamos a trabalhar - para o futuro dele.

26 de maio de 2010 às 11:37  
Blogger Manuel Brás said...

Triste fado...

São muitos factos contundentes
ditos com toda a convicção
sobre posturas decadentes
desta actual governação.

Nesta conjuntura precária,
tão parca em acções certeiras,
uma dengosa urticária
esfarrapa-nos as carteiras.

São nessas encruzilhadas
de caminhos divergentes
onde ficam espelhadas
as medidas indigentes.

26 de maio de 2010 às 15:33  

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