12.6.10

O Dia de Camões

Por Alice Vieira

DESDE QUE EU me lembro de ser gente que o dia 10 de Junho se festeja cá em casa.
Se calha a dia de semana, festeja-se mais tarde porque o meu pai tem de fechar a livraria e eu tenho de chegar do colégio.
Se calha a um domingo, festeja-se mais cedo, assim que a minha avó e a minha mãe chegam da missa.
Vamos todos até ao Chiado, bem junto da estátua, e o meu pai recorda a vida do poeta: as privações por que passou, a perda de um olho (nesse momento a minha avó murmura “ai coitadinho…”), o naufrágio (nesse momento a minha mãe murmura “ai, Dinamene!...”), e o regresso à pátria – e nesse momento eu murmuro “ cá vou eu…” porque já sei que é a altura de o meu pai apontar para as estátuas que rodeiam, cá em baixo, a figura do poeta lá no cimo, e perguntar:

- Zé Joaquim, quem são estes? (...)

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