As denúncias anónimas boas e as denúncias anónimas más
Por Helena Matos
A PROPÓSITO do Freeport, tal como da Casa Pia, a denúncia anónima tornou-se um estigma: “começou por denúncia anónima” – dizem como se o anonimato da denúncia atenuasse os factos denunciados. No caso do Freeport, a denúncia nem sequer foi anónima e os falsos anónimos acabaram condenados e provavelmente até serão os únicos condenados deste caso.
Não tenho simpatia pelo recurso ao expediente da denúncia anónima para abrir ou fazer andar processos. Noto, contudo, que os indignados da denúncia anónima no caso Freeport e no caso Casa Pia não se têm indignado com o estímulo das denúncias anónimas defendido e praticado por este governo. (...)
Texto integral [aqui]A PROPÓSITO do Freeport, tal como da Casa Pia, a denúncia anónima tornou-se um estigma: “começou por denúncia anónima” – dizem como se o anonimato da denúncia atenuasse os factos denunciados. No caso do Freeport, a denúncia nem sequer foi anónima e os falsos anónimos acabaram condenados e provavelmente até serão os únicos condenados deste caso.
Não tenho simpatia pelo recurso ao expediente da denúncia anónima para abrir ou fazer andar processos. Noto, contudo, que os indignados da denúncia anónima no caso Freeport e no caso Casa Pia não se têm indignado com o estímulo das denúncias anónimas defendido e praticado por este governo. (...)
Etiquetas: autor convidado, HM
3 Comments:
Há um par de anos, uns indivíduos assaltaram o meu vizinho de cima. O roubo foi rocambolesco (numa tarde de sábado e entrando por uma janela a 7 andares de altura!), o seu produto foi vultuoso, e os indivíduos nunca foram apanhados.
No entanto, houve quem os visse, e até quem reconhecesse um deles, mas o medo de represálias levou essas pessoas a calarem-se.
Pergunta-se: se elas tivessem feito uma denúncia anónima (com um telefonema para a polícia, p. ex.) teriam feito mal?
As denúncias anónimas devem ser feitas. Essa é uma forma de a população ajudar as autoridades nas suas investigações. Há linhas telefónicas que garantem o anonimato absoluto. “Absoluto” aqui talvez seja um termo redundante. Não creio haver anonimato parcial, mas enfim... Os serviços policiais portugueses têm esse serviço telefónico? Se a comunidade for mais participativa (e a polícia não tiver a atitude “não vale a pena queixar-se porque não vai dar em nada”) talvez consigam trabalhar em conjunto, digamos assim, e os serviços suscitem um maior respeito por parte dessa mesma comunidade.
Há algum tempo, disse-me um agente da PSP que muita gente assistia a assaltos de parquímetros, mas não fazia queixa com medo de represálias.
Não sei se o receio se justifica, mas compreendo-o bem:
Imagine-se se o gang que actua lá na rua (e a quem a polícia não faz nada - ou, quando muito, prende e solta logo a seguir) sabe quem apresentou a queixa!
De facto, não há nada a opor se, num caso desses, uma pessoa (ou duas, ou três) telefonar para o 112 a dar conta dos assaltos, sem ter de dar detalhes de identificação.
O que interessa é se o crime ocorre ou não. Ou seja: se a acusação é credível e se o facto se confirma.
Enviar um comentário
<< Home