6.12.10

Psico

Por João Paulo Guerra

O PSICODRAMA vivido na bancada do PS a propósito da votação da proposta do PCP sobre a tributação dos dividendos não quis dizer que a bancada esteja politicamente dividida. O que significou foi que alguns parlamentares do PS apresentam sintomas de Perturbação de Stress Pós-Socialista, enquanto outros dão simplesmente sinais de perturbações de ansiedade ou mesmo de ataques de pânico face à possibilidade de perderem o poder.

O que se discutia era uma questão do foro social e eminentemente socialista: a questão da igualdade. Aliás, a questão da tributação dos dividendos insere-se no domínio mais vasto da distribuição, por igual, dos sacrifícios "para todos" de modo a enfrentar a crise na óptica do Governo PS e do parceiro na aprovação do Orçamento, o PSD. Ora, o "para todos" não há dia em que não se lhe anuncie mais uma excepção. No caso dos dividendos, trata-se de uma excepção induzida por uma esperteza dos interessados, entre os quais se contam empresas em relação às quais o Estado tem o poder de intervir e mesmo de decidir.

Perante tal debate formaram-se duas linhas em uma só bancada: uma encabeçada pelo líder que, num assomo público de Perturbação de Ansiedade, ameaçou demitir-se; outra composta por uma facção de contornos indefinidos que, numa atitude de evitação, votou com a direcção da bancada mas disfarçou o sentido de voto com as mais duras recriminações. Qualquer especialista em diagnóstico de perturbação de ansiedade reconhece aqui uma atitude de evitação do comprometimento da consciência. Um comportamento evasivo, um subterfúgio, um descarte ou tergiversação.

E assim, o psicodrama acabou bem, isto é, acabou mal. Está inaugurada mais uma excepção a esta austeridade "para todos", isto é, para os do costume.

«DE» de 6 Dez 10

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